Brasília - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou nesta quinta-feira, 17, em Brasília e se reuiu com Dilma Roussef no Palácio da Alvorada, decidiu que não fará críticas públicas ao pacote fiscal, embora não seja entusiasta das medidas propostas pela equipe econômica do governo. Avalia que a situação da presidente Dilma Rousseff é muito delicada e que qualquer ataque, agora, daria munição para quem quer derrubá-la.
Todos os dias o Palácio do Planalto abriga reuniões reservadas em que ministros, líderes de partidos da base aliada e até advogados fazem o mapeamento dos votos de deputados e senadores com os quais pretendem contar para evitar um processo de afastamento de Dilma.
Embora a ordem seja não usar mais a palavra "impeachment" em público, nos bastidores o núcleo do governo trata o assunto como uma possibilidade cada vez mais concreta. Lula tem convicção de que é preciso injetar mais crédito na economia, mas avalia que Dilma ainda pode conseguir fazer isso, desde que acerte as contas públicas.
Tudo será feito para evitar novas derrotas no Congresso, que podem ser fatais para a presidente. A avaliação é que a prioridade atual é impedir que um possível pedido de impeachment seja aceito na Câmara comandada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ) porque, se isso ocorrer, será muito difícil barrar a sua tramitação mais adiante.
Até mesmo ministros do PT dizem que, diante de um cenário assim, Dilma perderá as condições políticas para continuar no comando do País. Será pressionada por todos os lados, mas, principalmente, pelas ruas.
Não há dúvida no governo de que Dilma precisa aprovar o quanto antes os principais pontos do pacote de reequilíbrio das contas públicas, com a reedição da CPMF, porque outra nova derrota sobre seus ombros, neste momento, pode ser fatal.
Apesar de não aprovar o endurecimento do ajuste fiscal, Lula disse a dirigentes do PT que não renovará as críticas à equipe econômica. Em conversas reservadas, ministros do PT dizem que o destino de Dilma, de Lula e do partido pode ser descrito como atrelado ao "imponderável".
A presidente Dilma Rousseff vai adotar a estratégia da "pronta resposta" para defender o seu mandato nas ruas e repisar que está em preparação "um golpe" contra a democracia ou uma espécie de "atalho", como ela costuma dizer, para encurtar o caminho da oposição ao poder.
Defendida por Lula, a tática foi fechada em reuniões com os principais auxiliares de Dilma, sob o argumento de que o governo precisa mostrar uma reação mais forte, e até de indignação, com as ameaças de "ruptura".
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