O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou o convite feito pela organização da Marcha para Jesus em São Paulo, marcada para o feriado de Corpus-Christi, 8. Por meio de uma carta direcionada ao apóstolo Estevam Hernandes, organizador do evento, ele disse que um dos seus “maiores orgulhos” foi ter sancionado uma lei que estabelece o Dia Nacional da Marcha para Jesus. O documento não faz menção à justificativa para a ausência e aponta que outras autoridades representarão o governo na caminhada.
“Retransmiti o convite à deputada federal Benedita da Silva e ao ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, que ficarão honrados em me representar na ocasião”, disse Lula.
O evento ocorre a partir das 10h da manhã, saindo da Estação da Luz, centro da capital paulista. A Marcha é organizada desde 1993 pelo apóstolo Hernandes, que é membro da Igreja Evangélica Pentecostal Renascer em Cristo. Esta é a 30.ª edição na capital paulista.
Apesar de o evento levantar uma bandeira ecumênica, a Marcha tradicionalmente aglutina políticos mais conservadores e à direita. O antecessor de Lula na Presidência, Jair Bolsonaro (PL), era figura constante nos eventos da Marcha pelo País – as edições do Rio, São Paulo, Manaus, Curitiba, Balneário Camboriú, Cuiabá e Uberlândia foram algumas que ele visitou ao longo de 2022.
Católico, Bolsonaro discursou sobre “ideologia de gênero”, reeleições e o Partido dos Trabalhadores nos eventos. A reportagem questionou Fabio Wajngarten, advogado e assessor pessoal de Bolsonaro. Ele disse que o ex-presidente não irá à Marcha do dia 8 em São Paulo.
Vinicius do Valle, doutor em Ciência Política e diretor do Observatório Evangélico, avalia que a decisão de Lula de não ir à Marcha foi acertada. “Vai ser um espaço rodeado de lideranças, algumas inclusive parlamentares, que fazem forte oposição ao governo e, de forma mais ampla, à figura do Lula e à esquerda. Se ele aparecesse, provavelmente ia encontrar um ambiente hostil”, avalia.
Embora a religião tenha sido uma das pautas da campanha de 2022, Lula não tem uma boa recepção entre os evangélicos e tampouco tem feito gestos para estreitar essa relação. Por isso, na perspectiva de Valle, a decisão de não ir à Marcha em São Paulo pouco afetará a sua imagem pública. “Isso vai produzir material para alimentar grupos que já fazem parte da oposição. A Marcha é encampada por um conjunto de evangélicos pentecostais, de igrejas mais novas e midiáticas, de uma população que já é mais hostil ao governo Lula.”
Na contramão a esse ponto de vista, o cientista político vê uma maior inserção de Lula em algumas camadas do povo evangélico – os mais pobres. “É um público que não está em manifestação alguma, porque passa por uma situação de vulnerabilidade social que atrapalha o engajamento”, afirma Valle.
Outras autoridades
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), recebeu pessoalmente o apóstolo Hernandes e a sua mulher, bispa Sônia, que lhe entregaram o convite no dia 9 de maio. Os três oraram juntos na ocasião, no Palácio dos Bandeirantes.
Durante a campanha, em 2022, o atual governador levantou a bandeira da religião em seus discursos e chegou a repetir versículos bíblicos lado de Michelle Bolsonaro, que é evangélica.
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