BRASÍLIA - Depois de o Congresso esvaziar os poderes do Ministério do Meio Ambiente sem que houvesse reação do Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu mandar um sinal de que não abandonou o discurso de preservação ambiental. Tentando manter o compromisso feito com Marina Silva ainda na campanha eleitoral, o petista aproveitou a solenidade no dia mundial do Meio Ambiente para avisar que seu governo será duro com quem destruir a Amazônia. No discurso, Lula citou três setores: pecuaristas; madeireiros e garimpeiros.
Ao mesmo tempo em que prometeu ações de repressão contra desmatamento e garimpo ilegal, Lula disse que a preservação do meio ambiente deve assegurar também melhores condições de vida aos povos da Amazônia. Com a ministra Marina Silva presente, Lula sustentou que é preciso criar alternativas para exploração da biodiversidade da região. Ele não fez, no entanto, referência direta ao petróleo. O Ibama barrou um projeto da Petrobras na foz do Rio Amazonas para exploração do combustível fóssil.
“Para preservar a Amazônia é preciso cuidar do povo, da fauna e da floresta. Mas não podemos permitir que os seres humanos dessa região continuem sendo os pobres do planeta. Nós queremos extrair, pesquisar a riqueza de nossa biodiversidade para ver se dela a gente consegue tirar sustento do nosso povo”, afirmou Lula, citando dois setores da indústria que podem se beneficiar dessa exploração: o de cosméticos e o de medicamentos.
Depois de reclamar que países estrangeiros fazem promessas de investimentos bilionários para preservar o meio ambiente, mas não liberam as cifras prometidas, o presidente mandou um recado a pecuaristas e madeireiros brasileiros.
“Quero dizer a cada companheiro fazendeiro, cada produtor rural, pelo amor de Deus, não precisa mais derrubar árvores para plantar soja, milho, cana ou criar gado. Tem muita terra para ser utilizada. Precisamos dizer aos madeireiros desse país que se quiserem derrubar árvore, plantem aquilo que quiserem cortar para fazer uma cadeira, um armário”, disse Lula, se dirigindo em seguida aos garimpeiros: “Não pode explorar sem autorização de pesquisa. Esse País tem lei, tem regra. Senão, é garimpo ilegal e vamos lutar muito”.
Antes do discurso de Lula, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, voltou a reclamar do esvaziamento de sua Pasta durante a votação no Congresso da MP dos Ministérios do governo Lula. O ministério perdeu atribuições sobre a política de resíduos, sobre o Cadastro Ambiental Rural e sobre a Agência Nacional de Águas. A ministra classificou a decisão dos parlamentares como “retrocesso” na área ambiental.
“Infelizmente, em recente decisão do Congresso tivemos um retrocesso. Acatamos porque na democracia a gente acata decisões legítimas do Congresso, mas não posso concordar. Não posso concordar porque vão na contramão daquilo que significa ter legislação ambiental robusta e faça com que o Ministério do Meio Ambiente possa cumprir com suas atribuições que lhe são conferidas na Constituição e em todas as leis que asseguraram a criação do sistema nacional de meio ambiente”, disse Marina.
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