BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se reuniram na manhã desta segunda-feira, 5, no Palácio da Alvorada, para tentar azeitar a relação entre governo e os deputados, que atingiu o grau máximo da crise durante a tramitação da Medida Provisória (MP) dos Ministérios. A aprovação do texto só saiu após Lula prometer ao Centrão que haverá mudanças na articulação política do governo, como defendem parlamentares, além da liberação de emendas e cargos, como revelou a Coluna do Estadão.
O encontro, que começou por volta de 8 horas da manhã, não constou da agenda oficial de Lula e sua extensão levou ao adiamento de outros compromissos, como a reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para avançar em temas da agenda econômica, a exemplo do chamado Desenrola e do programa do carro popular. O café entre Lula e Lira foi articulado pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). O petista tentava promover a reunião desde a semana passada, como antecipou o Estadão/Broadcast Político.
Para além dos problemas na articulação política, a relação entre Lula e Lira piorou ainda mais após a Polícia Federal deflagrar uma operação contra aliados do presidente da Câmara, o que levou o ministro da Justiça, Flávio Dino, a ir à residência oficial do alagoano para conter a escalada da crise. Para interlocutores do deputado alagoano, a PF teria agido diretamente para atingi-lo.
MPs
Como mostrou a Coluna do Estadão, Lula se comprometeu a alinhar com o comando do Congresso a edição de Medidas Provisórias antes de formalizar sua publicação. O modelo de tramitação de MPs ainda é alvo de impasse entre o próprio Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Após o encontro, em entrevista à CNN Brasil, Lira afirmou que a reunião com o petista foi de caráter “institucional”. Segundo o presidente da Câmara, eles conversaram sobre uma arrumação mais efetiva da base do governo e sobre as matérias mais importantes que deverão estar em discussão na Casa ainda no primeiro semestre.
“A minha conversa com ele (Lula) hoje foi institucional, de presidente da Câmara para presidente da República, tratando de problemas macro, de projetos importantes e decisões que precisam ser tomadas para que o governo tenha a tranquilidade necessária com uma base consolidada para uma votação, por exemplo, da reforma tributária”, disse. O deputado negou que tenha discutido a liberação de emendas e cargos na administração federal.
Lira afirmou ter sido convidado para o encontro pelo próprio Lula, ontem. “Eu recebi ontem uma ligação do presidente para tomar café da manhã hoje”, afirmou o líder do Centrão à CNN. Segundo o deputado, “Lula está se movimentando” após a crise na articulação política. “E isso é bom”, destacou o parlamentar. ”Nós colocamos assuntos em dia, tratamos do que vem se discutindo, que é uma arrumação mais efetiva da base do governo na Câmara e no Senado”, relatou o presidente da Câmara. Segundo ele, é preciso avançar nas conversas para o País deixar “essa situação de indefinição” sobre o tamanho da base do governo na Câmara.
“O governo vai, a partir de hoje, ter participação mais efetiva na construção de base mais sólida”, declarou o parlamentar. “Nós precisamos que matérias do governo possam ser discutidas com tranquilidade.” Ele ainda assegurou que é um “facilitador” do governo na Câmara, mas ressaltou que o atual Congresso é conservador e liberal, com posições próprias diferentes da postura de esquerda adotada pelo Palácio do Planalto.
Segundo Lira, líderes partidários devem se encontrar com Lula ainda na tarde desta segunda-feira, 5, para tratar da articulação política.
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