BRASÍLIA - Um dia após demitir Ana Moser do cargo de ministra dos Esportes para acomodar o deputado do Centrão André Fufuca (PP-MA), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cercou das demais ministras do governo na tribuna de honra do desfile de 7 de Setembro.
O local tem espaço para 250 convidados, que ficam posicionados atrás de Lula e da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. As ministras, porém, passaram boa parte do desfile ao lado do casal presidencial e interagindo com ambos.
Lula e Janja mantiveram ao seu lado todas as ministras do governo: Nisia Trindade (Saúde), Marina Silva (Meio Ambiente), Simone Tebet (Planejamento), Margareth Menezes (Cultura), Anielle Franco (Igualdade Racial), Sonia Guajajara (Povos Indígenas), Luciana Santos (Ciência), Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dweck (Gestão e Inovação). A demissão de Ana Moser para acomodar um político homem foi criticada por grupos de sustentação do governo.
Durante o desfile, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, publicou uma nota destacando as competências da ex-ministra. A comunicação oficial de Lula, por sua vez, nem sequer mencionou o nome da ex-atleta.
“Com trajetória admirável, Ana Moser recuperou o papel social transformador do esporte em 8 meses de governo. Atuou incansavelmente pela valorização do futebol feminino e pela igualdade entre atletas mulheres e homens. Tenho certeza de que nos encontraremos em breve em futuras parcerias”, escreveu a ministra Cida Gonçalves.
Como mostrou a Coluna do Estadão, aliados da agora ex-ministra ficaram revoltados com a postura do governo. “Não agradeceram pelo trabalho. Lamentável. A ministra não merecia”, comentou à Coluna uma das pessoas mais próximas da ex-atleta.
Em nota divulgada por sua assessoria, Ana Moser diz que viu “com tristeza e consternação a interrupção temporária de uma política pública de esporte inclusiva, democrática e igualitária no governo federal”.
Lula repetiu com Ana Moser o roteiro que havia feito com Daniela Carneiro no Ministério do Turismo. Daniela foi demitida em julho em um movimento do Planalto para melhorar a relação com o União Brasil. O presidente disse que precisava do cargo e entregou a cadeira a um homem que antes apoiava Jair Bolsonaro, o deputado Celso Sabino (União Brasil-BA).
Indicações no STF
As críticas à maneira como Lula vem manejando a questão de gênero se intensificaram nos últimos dias por conta da iminência da indicação do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que substituirá Rosa Weber.
Organizações da sociedade civil e grupos ligados à esquerda têm cobrado Lula para que indique uma mulher para a vaga de Rosa. Os favoritos para ocupar o posto são dois homens: o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas.
O presidente já havia sido cobrado pela indicação de uma mulher quando abriu a primeira vaga na Corte em seu terceiro mandato. O petista, porém, optou pela escolha de seu advogado pessoal, Cristiano Zanin, para o lugar de Ricardo Lewandowski, que se aposentou.
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