BRASÍLIA - O Palácio do Planalto entrou na operação de última hora para tentar reverter traições e garantir a reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nesta quarta-feira, 1. O governo calcula que Pacheco tem 46 votos, podendo chegar a 50, dependendo do tamanho da promessa de cargos e distribuição de verbas federais a redutos eleitorais de senadores. Até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) pediram apoio a Pacheco, em conversas reservadas.
O presidente do Senado enfrentará o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional no governo de Jair Bolsonaro. Eduardo Girão (Podemos-CE) desistiu da candidatura avulsa e declarou apoio a Marinho, que dirigia um dos ministérios com mais recursos do orçamento secreto.
A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro foi pessoalmente ao Senado para entrar na campanha de Marinho, sustentada pelo Centrão. Questionada se o ex-presidente não retornou dos Estados Unidos, onde está desde 30 de dezembro, por temer ser preso, Michelle respondeu: “Não é ele que tem de ter medo de ser preso.”
Poucos minutos depois, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, entrou no Salão Azul no Senado. Logo avistou Marinho, o candidato apoiado pela família Bolsonaro. “Como vai, Rogério?”, perguntou o ministro, após cumprimentá-lo. “Tudo bem”, respondeu Marinho, com semblante fechado.
Padilha deu mais alguns passos e foi informado por repórteres que Michelle estava ali fazendo pedindo votos para Marinho. “Eu acho que o fato de o marido dela ter fugido do País, não ter passado a faixa presidencial e ter se recusado a admitir a derrota não é um bom cartão de visita”, disse Padilha.
Articulador político do governo, Padilha é deputado federal e foi exonerado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir o mandato e votar em Arthur Lira (PP-AL), que concorre à reeleição ao comando da Câmara. Outros dez ministros também deixaram os cargos para tomar posse no Congresso. Os que foram eleitos senadores, como Wellington Dias (PT-PI), Camilo Santana (PT-CE) e Flávio Dino (PSB-MA), anunciaram o voto em Pacheco.
Embora Padilha tenha dito que o governo não interfere na disputa no Congresso, foram prometidos para o União Brasil cargos na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). Há também diretorias no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Tranportes (Dnit) em negociação, até mesmo com o PSD.
“Nós vamos tratar todos no Congresso muito bem. Existia no terceiro andar do Planalto uma máquina que fabricava guerra, mas isso chegou ao fim”, disse Padilha. “Acabou a era de fuzilar a oposição.”
Fiel da balança
A disputa no Senado gira em torno do voto de pelo menos 11 indecisos, que devem atuar como fiel da balança para escolher o presidente da Casa. A preocupação que fez ministros do Supremo conversarem com senadores se refere à tentativa de bolsonaristas de enquadrar a Corte. Defensores da candidatura de Marinho defendem impeachment de ministros do Supremo e uma CPI para investigar o que chamam de “abusos” do Judiciário.
O grupo de Pacheco rejeita essa pauta, mas há divisões na aliança. Cinco senadores do PSD estão “balançando” entre uma e outra candidatura e decidiram cobrar fatura de cargos para dar o voto. Nelsinho Trad (MS), líder do partido, e Lucas Barreto (AP), antigo aliado do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), já disseram que votarão em Marinho.
Aliados do presidente do Senado ainda diz acreditar, porém, que Trad pode votar reverter a traição, se for contemplado pelo governo com cargos. Samuel Araújo (RO), Vanderlan Cardoso (GO) e Sérgio Petecão (AC) também estão no grupo que pode ir “para lá ou para cá”.
Outro partido decisivo no jogo é o União Brasil, que tem nove senadores. Nos bastidores, senadores diziam que Alcolumbre, líder e fiador da candidatura de Pacheco, havia conseguido assegurar apenas dois votos “convictos” para o afilhado político: o dele próprio e o de Jayme Campos (MT).
Colegas do União Brasil montaram uma operação para “fritar” Alcolumbre, que, na avaliação deles, concentra muito poder e quer monopolizar as decisões de Pacheco. Para tentar rever a situação, Alcolumbre admitiu que pode abrir mão de disputar mais uma vez a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e entregou a liderança do partido no Senado para Efraim Filho (PB). Atualmente, Alcolumbre é presidente da CCJ, além de ser o principal cabo eleitoral de Pacheco.
Ao lado de Marinho no União Brasil estão Sérgio Moro (PR) e Alan Rick (AC). Os outros senadores são alvo de investidas tanto do governo quanto da oposição a Lula e também entraram no “toma lá, dá cá”. O grupo de Pacheco ofereceu a segunda vice-presidência para Professora Dorinha (TO) na tentativa de atrair a senadora, que ainda não bateu o martelo sobre seu voto.
No MDB, o acordo de Pacheco é reeleger senador Veneziano Vital do Rêgo (PB) como primeiro vice-presidente, mas outros emedebistas não gostaram da negociação. Confúcio Moura (RO), Giordano (SP), Fernando Dueire (PE) ameaçam não seguir a orientação do partido e votar em Marinho. O que atrai o grupo de indecisos para o candidato do PL é a possibilidade de ganhar cargos de governadores bolsonaristas. Até agora haviam sido deixados de lado na negociação com o Planalto, mas o governo também os procurou.
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