BRASÍLIA - Os governos do Brasil e da China vão assinar ao menos 20 acordos de cooperação bilateral durante a visita de Estado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará entre 26 e 31 de março a Pequim e Xangai. Entre os acordos, está o que prevê a construção e o lançamento em órbita de um novo satélite sino-brasileiro, que permitirá um avanço na qualidade de imagem para monitorar o desmatamento florestal na Amazônia e outros biomas.
“O CBERS 6 será o primeiro satélite desenvolvido entre os dois (países) que usa uma tecnologia que permite ao radar monitorar a floresta mesmo com nuvens. É um avanço”, disse o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty.
O programa CBERS (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) já produziu e colocou em órbita seis satélites. O primeiro lançamento ocorreu em 1999, e o último, em 2019. Os investimentos desde o início do programa passam dos U$ 300 milhões.
O último CBERS 04A, lançado em 2019, tem vida útil estimada até o fim de 2024, mas pode permanecer mais tempo em órbita e em condições operacionais, como seu antecesor, o CBERS 4. Ele foi custeado metade pelo Brasil e metade pela China. O satélite já pode ser usado para certos tipos de monitoramento, como de garimpo ilegal no leito de rios, mas a qualidade das imagens captadas pelas câmeras brasileiras em órbita é afetada pelas nuvens.
O Estadão apurou que ainda estão acertadas uma cooperação na área de esportes, em diferentes modalidades, e uma cultural, para promover coproduções televisivas entre entes da mídia chinesa e a brasileira.
Há ainda na lista de memorandos ligados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com uma linha de crédito em vista, meio ambiente, educação, ciência e tecnologia, finanças, protocolos sanitários e fitossanitários ligados a produtos do agronegócio, entre outras.
“É uma visita de importância comercial, econômica, mas também política. Ela acontece na sequência da retomada de contatos de alto nível. Ocorre num momento auspicioso, de novo ciclo político no Brasil e na China”, disse o embaixador Eduardo Saboia. “O objetivo é o aprofundamento da parceria estratégica global.”
Segundo o embaixador, o País deseja diversificar sua pauta comercial com a China, hoje pautada por commodities exportadas, como carne, soja, minério de ferro e derivados do petróleo, e manufaturas importadas. O principal foco é explorar possibilidades de desenvolvimento conjunto e complementar, com abordagem tecnológica, transição energética, combate à fome e de mudança climática.
“Quando dois países em desenvolvimento se encontram é também um momento em que Brasil e China, os dois líderes, falam para o mundo”, afirmou Saboia, que não quis antecipar a expectativa do governo em relação às propostas que Lula e Xi Jinping discutirão no dia 28, em Pequim, sobre a guerra da Ucrânia. O comunicado conjunto, em fase de rascunho, deve ter cerca de 50 parágrafos.
“Isso demostra a densidade e o interesse”, disse Saboia. “A participação também é recorde de empresários.”
A comitiva empresarial já atingiu a marca de 240 empresários inscritos, sendo considerada recorde pelo governo. Como o Estadão revelou, representantes de diferentes empresas e setores econômicos disputam espaço e prestígio para serem incluídos na comitiva oficial de Lula.
Um dos responsáveis por selecionar nomes para a delegação, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, classificou a situação como um “overbooking” de empresários.
Segundo o secretário Daniel Fernandes, do Departamento de Promoção Comercial, Investimentos e Agricultura, os empresários não foram convidados para voar no avião presidencial com Lula. O diplomata disse que o governo não vai custear passagens aéreas ou hospedagens.
“Já temos uma delegação recorde de cerca de 240 empresários inscritos. É um número muito grande. Somente do agronegócio temos cerca de 90 representantes. Estarão representados os mais diversos setores, de tecnologia, inovação, construção. Teremos um evento empresarial de dia inteiro, com cerca de 400 a 500 participantes”, afirmou Fernandes. “A procura é impressionante.”
Parlamentares e governadores que compõem a delegação também não terão as despesas cobertas pela Presidência da República, mas sim pelos respectivos órgãos, como Estados, Câmara dos Deputados e Senado Federal.
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