Em mais uma cerimônia de lançamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a legislação eleitoral, que impede a liberação de recursos para os municípios a partir de 4 de julho, por causa das eleições municipais em outubro. "É o lado podre da hipocrisia brasileira, em que você pára um determinado tempo por causa de suspeição", disse. Veja calendário eleitoral de 2008 "Eleição neste país, em vez de ser uma coisa importante para consagrar a democracia, faz quem governa ficar um ano sem governar, em quatro anos de mandato", reclamou. "Pelo falso moralismo deste país parte-se do pressuposto de que um presidente ou governador assinar um contrato com um prefeito é beneficiar o prefeito." Falando de improviso, Lula, ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pediu que prefeitos e governadores venham a Brasília apresentar seus projetos o quanto antes. "Ainda tem, só da Caixa Econômica Federal, até o final deste mês, R$ 1,5 bilhão", contou, referindo-se a recursos para a contratação de novas obras. Para o presidente, não é possível um país que precisa gerar empregos, fazer esgoto, fazer ruas, "ficar três meses sem fazer nada" porque o prefeito não foi buscar os recursos. "Nós vamos continuar chamando os governadores, chamando os prefeitos, até a data limite. Nós não queremos deixar nenhum centavo do PAC na gaveta." Na cerimônia, Lula queixou-se da ausência de alguns prefeitos e da governadora gaúcha, Yeda Crusius, que é do PSDB. O Rio Grande do Sul recebeu o maior volume de recursos do PAC ontem, R$ 342,9 milhões, de um total de R$ 2,041 bilhões. "REPUBLICANO" Mesmo sem Yeda, o presidente mais uma vez aproveitou a liberação de verbas para um Estado governado pela oposição para se gabar de não discriminar nenhum partido. Ele disse ainda que duvida "que tenha algo mais republicano que o PAC", assim como duvida que algum prefeito ou governador "tenha sido preterido por conta de pertencer a uma organização política diferente", ou seja, que não integre sua base de apoio. Em seguida, Lula contou que respondeu "a manchetes de jornais" que diziam que o "governo privilegia aliados", marcando para a semana seguinte uma visita a São Paulo, para assinar obras do PAC com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o governador José Serra (PSDB), que não são seus aliados. "E olha que o PAC de São Paulo, sozinho, tem mais dinheiro que todos vocês juntos", acrescentou, referindo-se aos governadores presentes, Binho Marques (Acre), José Roberto Arruda (Distrito Federal), Waldez Góes (Amapá), Alcides Rodrigues (Goiás), Cid Gomes (Ceará), Marcelo Miranda (Tocantins) e Luiz Fernando Pezão (em exercício do Rio). Lula comentou que as pessoas diziam que ele não podia ir a São Paulo, "porque Kassab é do PFL" - nome antigo do DEM. "Kassab é do PFL, mas o povo de São Paulo é brasileiro, antes de tudo, e merece que a gente cuide dele." ARRUDA Insistindo na tese de que não discrimina adversários políticos, Lula passou a elogiar Arruda, o único governador do DEM. "É o mais esperto dos governadores'', brincou, provocando risos da platéia. "De vez em quando ele pede uma audiência para mim, vem agradecer as obras do PAC, eu fico todo feliz e ele vem atochando novos pedidos de obras do PAC." Depois de comparar o PAC a uma "roda gigante que não pode parar de girar", Lula informou que a partir de julho, quando a lei não permite mais liberação de verbas, ele continuará viajando, mas não para assinar contratos e sim para visitar obras em andamento.
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