O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e entidades de servidores públicos federais promoveram nesta quarta-feira, 23, atos pelo País contra o ajuste fiscal do governo federal - que inclui cortes no programa habitacional Minha Casa Minha Vida da ordem de R$ 4,8 bilhões e o adiamento do reajuste salarial dos servidores, segundo o anúncio feito pela equipe econômica da presidente Dilma Rousseff. Em São Paulo, militantes do MTST ocuparam a sede do Ministério da Fazenda em São Paulo, no centro da capital paulista, por volta das 10 horas, para pedir garantias de manutenção do Minha Casa Minha Vida em 2016, além da mudanças na política econômica. Depois de quase três horas de ocupação, os militantes do MTST deixaram o local rumo à Estação Luz, onde o ato foi encerrado. Além de São Paulo e no interior paulista, houve manifestações dos sem-teto no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Ceará e Distrito Federal.
O coordenador do MTST, Guilherme Boulos, chamou a sede do Ministério da Fazenda em Brasília de "covil onde o ministro Joaquim Levy (Fazenda) fica fazendo suas maldades". "A presidente Dilma até lançou o Minha Casa Minha Vida 3, mas no dia seguinte anunciou cortes no orçamento. A gente não aceita ser tratado que nem trouxa", discursou Boulos. "Enquanto não parar o ajuste fiscal e não liberarem o recurso para moradia, este país vai ter manifestação quase todo dia", afirmou o líder em São Paulo.
Depois de uma negociação com a Polícia Militar, lideranças do MTST aceitaram liberar parte da sede do Ministério da Fazenda em São Paulo e ficaram concentrados na portaria principal para não atrapalhar o expediente. Uma funcionária da instituição foi vaiado por militantes ao tentar defender o ajuste fiscal do governo. Policiais militares da Força Tática, portando escudos e escopetas, fizeram uma barreira para impedir a ocupação da Rua Brigadeiro Tobias. Alguns manifestantes correram, mas não houve confrontos. "É que quando a gente vê a Força Tática e já se prepara para as balas de borracha", explicou um militante. O ato terminou na Estação Luz por volta das 13h30. A PM não fez estimativa de manifestantes que participaram do protesto. Segundo os organizadores, o ato reuniu cerca de 10 mil pessoas.
Servidores. Na capital federal, de manhã, o prédio do Ministério da Fazenda foi invadido por cerca de 150 manifestantes de movimentos agrários e de habitação, segundo a PM do Distrito Federal, que retirou o grupo do local pouco tempo depois. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não estáva no prédio. Servidores públicos federais também protestaram na Esplanada. Segundo Sérgio Ronaldo da Silva, da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), a expectativa era receber 2 mil pessoas - o número não foi confirmado depois da manifestação. A Condsef, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), reúne 36 sindicatos, que representam 80% dos servidores do Executivo.
A principal pauta dos protestos é a decisão do governo de congelar por sete meses o reajuste dos salários da categoria. A medida, segundo o Executivo, vai economizar R$ 7 bilhões aos cofres públicos. Pela estimativa da Condsef, a adesão dos servidores que estão em greve por tempo indeterminado deve dobrar para 200 mil funcionários - dos 850 mil do Executivo. A maior parte dos grevistas está lotada nas 56 universidades federais e nos postos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os sindicatos dos funcionários públicos federais estão se reunindo com as centrais para decidir sobre a convocação de uma greve geral por tempo indeterminado de toda a categoria.
Em Brasília, um dos coordenadores nacionais do MTST, Eduardo Borges informou ao Estado que um representante da Secretaria-Geral da Presidência se reuniu ontem com manifestantes e disse que levará um pedido para que os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, recebam uma comissão de sem-teto para a entrega da pauta de reivindicações do movimento. "É o mínimo que a gente espera", afirmou Borges.
Feijão. Ato do MTST no Rio,ocupou as escadarias externas do prédio do Ministério da Fazenda, no centro. Segundo os organizadores, 200 pessoas participaram do protesto, vindas de acampamentos de São Gonçalo e Niterói, na região metropolitana do Rio. Os manifestantes levaram 10 quilos de feijão para cozinhar durante o ato como símbolo do aumento do preço dos alimentos e a "pressão" que querem exercer no governo federal. "É um reflexo dessa inversão de prioridades que o governo tem. Enquanto congela o aumento de servidores, prioriza o mercado internacional. Os movimentos sociais têm o papel de pressionar o governo", disse o coordenador do MTST, Guilherme Simões.
Em Minas Gerais, os cerca de 120 integrantes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e das Brigadas Populares que ocuparam o edifício da Receita Federal no centro de Belo Horizonte deixaram o local no início da tarde, após três horas de manifestação. "Demos o nosso recado à presidente Dilma Rousseff. É preciso governar para os trabalhadores", disse o coordenador do MBL em Minas, Leonardo Péricles. A unidade da Receita teve de ser fechada para o atendimento ao público. Cerca de 500 famílias, segundo os organizadores, participaram do encerramento do MTST em Goiânia em frente à Companhia de Energia Elétrica de Goiás.
Funcionários do Banco Central de Fortaleza também realizaram ato em frente à sede da instituição. De acordo com o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, cerca de 50 pessoas participaram do protesto, que se uniu às manifestações pelo País contra o ajuste fiscal do Executivo. Funcionários do BC estão em greve há quatro semanas.
Agricultura. À tarde, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram o prédio do Ministério da Agricultura, em Brasília. Uma parte do grupo que estava em marcha na Esplanada dos Ministérios deixou a caminhada, furou a segurança e causou tumulto - o prédio foi pichado. Houve enfrentamento com policiais, que tentaram conter os exaltados, mas não conseguiram. A confusão durou cerca de 10 minutos. Em São José do Rio Preto, no interior paulista, o MST também aderiu aos protestos contra as medidas do ajuste e paralisou o tráfego em três rodovias estaduais que levam a usinas de açúcar e álcool do interior de Minas Gerais. Em Sorocaba, protesto de metalúrgicos contra o ajuste fiscal reuniu, segundo a Guarda Civil, 3 mil trabalhadores. Em Sumaré, houve uma marcha até a cidade de Campinas como parte dos protestos./ RICARDO GALHARDO, CHICO SIQUEIRA, DIEGO MOURA, LEONARDO AUGUSTO, MURILO RODRIGUES ALVES, DIDA SAMPAIO, LORENNA RODRIGUES, JOSÉ MARIA TOMAZELA, BERNARDO CARAM, RACHEL GAMARSKI
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