A caça do javali é permitida no Brasil, desde que uma série de regras sejam cumpridas. A prática se popularizou no governo de Jair Bolsonaro, quando saltou de 826 para 2.010 o total de cidades com registros de presença do bicho.
A dispersão da incidência de javalis pelo território nacional é considerada suspeita por especialistas e técnicos ambientais. Os “saltos geográficos” entre as cidades com registros da espécie invasora são apontados como indícios de que a a ação humana pode estar por trás do alastramento do animal considerado uma praga para o meio ambiente e para o agronegócio.
No entanto, todos os dados são vistos com ressalvas pois são baseados na autodeclaração dos caçadores enviada ao Ibama por meio do Sistema de Controle de Fauna (Simaf). Não há um levantamento preciso sobre a real incidência do javali nas diferentes regiões do Brasil. Os dados do Simaf levam em conta somente as notificações de animais abatidos.
“A dispersão dos javalis não é natural. Uma distribuição natural seria por ondas contínuas ocupando os terrenos. A distribuição segue os principais modais rodoviários. Existem áreas relatadas de ocorrência de javalis cujas manchas não possuem conexão com nenhuma outra área onde ele já ocorra. Ou seja, o animal foi levado para lá ou estão mentindo sobre sua existência para poderem acessar armas e poderem sair para caçar, inclusive silvestres”, afirma Roberto Cabral, analista ambiental do Ibama.
Os representantes do caçadores, por outro lado, afirmam que a reprodução do javali é mais rápida que a burocracia estatal necessária para liberar os manejadores e o resultado é o descontrole da praga.
“O caçador não espalha nada. Nós corremos contra o tempo atrás de uma praga que não vai esperar pela gente”, afirma Rafael Salerno, presidente da Associação de Caçadores do Brasil. “A criação informal foi, sim, o principal fator dispersor lá atrás. Mas isso não tem nada a ver com caça.”
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