O influenciador Pablo Marçal (PRTB) está preparando uma ofensiva digital para alavancar sua candidatura na reta final da campanha à Prefeitura de São Paulo. O movimento será deflagrado a partir de sexta-feira, 4, quando a propaganda no rádio e televisão terá acabado e o impulsionamento de publicações nas redes sociais estará proibido.
A equipe de Ricardo Nunes (MDB) está em alerta com os três últimos dias da campanha sem a propaganda na TV e no rádio. Para aliados do emedebista ouvidos pelo Estadão, o prefeito conseguiu sustentar seu desempenho nas pesquisas graças à força do horário eleitoral gratuito, onde detém o maior tempo de exposição entre todos os candidatos.
A preocupação cresce diante do desempenho tímido de Nunes no ambiente digital e da forte presença de Marçal nas redes sociais. Aliados do prefeito avaliam que a campanha demorou a investir no ambiente online e não conseguiu se estruturar para enfrentar o domínio digital de Marçal, ficando em desvantagem nos últimos dias da campanha.
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A campanha de Nunes esperava que o prefeito chegasse às vésperas da eleição com uma vantagem de 10 pontos sobre os adversários, o que permitiria alguma desidratação na reta final sem comprometer a sua liderança. No entanto, esse cenário não se concretizou. Na pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira, o prefeito aparece com 24% das intenções de voto, contra 23% do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e 21% de Marçal. Como a margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, os três estão tecnicamente empatados.
Marçal quer criar ‘movimento’ de apoio
Nos últimos dias, Marçal tem focado na gravação de vídeos com seus candidatos à Câmara Municipal e em conteúdos exclusivos para suas redes sociais, que começarão a ser publicados a partir de sexta-feira, 4, um dia depois do fim do horário eleitoral gratuito.
“A campanha eleitoral que não gera paixão no eleitor, quando acaba o combustível de rádio, TV e impulsionamento, aí acabou o resto”, disse Marçal em uma entrevista coletiva na terça-feira, 1º, comemorando que a “pancadaria” contra ele vai cessar. “Escreve lá: Marçal está feliz que acabou o programa eleitoral gratuito. De quinta-feira para frente é comigo. Eles não têm mais o que fazer. Eles não dão conta de fazer o que eu faço”, acrescentou ele.
Um aliado afirma que Marçal adotará um tom mais propositivo e destacará a equipe que pretende levar para a administração municipal, caso seja eleito, buscando reduzir sua rejeição e se reposicionar como gestor após as polêmicas que marcaram sua campanha.
Uma preocupação é melhorar sua imagem perante ao eleitorado feminino. Depois de dizer que “mulher não vota em mulher, mulher é inteligente” em um embate com Tabata Amaral (PSB) no debate de segunda-feira, 30 , ele afirmou no dia seguinte que seu secretariado pode ter maioria feminina porque mulheres são “mais competentes e biologicamente mais inteligentes”.
Marçal convocou a coletiva de imprensa para anunciar duas integrantes de sua eventual equipe: a economista Selene Peres Nunes, ex-secretária no governo de Ronaldo Caiado (União) em Goiás, comandaria a Secretaria de Gestão e Responsabilidade Fiscal e a ex-jogadora de vôlei, Patrícia Borges (União), a Secretaria de Esportes — ela é candidata a vereadora em São José dos Campos (SP).
Outros três secretários já haviam sido anunciados na semana passada. Marcos Cintra, secretário da Receita Federal no governo Jair Bolsonaro (PL), foi escolhido para responder pela Secretaria da Fazenda e o médico Wilson Pollara para ser secretário de Saúde, posto que já ocupou na gestão João Doria, em um eventual governo Marçal.
Filipe Sabará, outro ex-secretário de Doria e coordenador da campanha de Marçal, também integraria um eventual secretariado do ex-coach, mas seu cargo não foi anunciado. “O [Ricardo] Salles seria um grande nome para ser secretário. Estou pensando em convidá-lo”, disse o candidato do PRTB, em aceno à base bolsonarista que queria o ex-ministro do Meio Ambiente como candidato a prefeito de São Paulo.
Salles organizou um jantar em sua casa na noite de terça-feira com empresários interessados em conhecer Marçal e declarou apoio ao candidato do PRTB.
Marçal não revela detalhes sobre o conteúdo das publicações, mas indica que usará suas redes para criar um movimento de apoio à sua candidatura nos últimos dias antes da votação. Na visão dele, a estratégia não teria como ser contida por Nunes e outros adversários porque eles não têm a mesma força na internet e nem poderiam gastar dinheiro para aumentar o alcance das próprias publicações.
O candidato do PRTB afirmou que, se o horário eleitoral e o impulsionamento acabassem no sábado, não haveria “pressão” para chegar ao segundo turno. No entanto, acredita que sexta e sábado são suficientes “para o ar abrir na cidade de São Paulo”.
Nunes mantém aposta em Tarcísio, voto útil e gestão
Faltando poucos dias para o primeiro turno, Nunes mantém a aposta no discurso do voto útil, argumentando que apenas ele é capaz de derrotar Guilherme Boulos em um eventual segundo turno.
A campanha do prefeito dobrou a aposta no apoio de Tarcísio nesta reta final. O governador tem aparecido no horário eleitoral do prefeito justamente reforçando o discurso do voto útil. Em uma das peças veiculadas nesta quarta-feira, ele diz que “quem vota no Marçal está ajudando o Boulos”. Paralelamente, Nunes intensificou a distribuição de materiais em diferentes bairros da cidade, detalhando as obras e entregas de sua gestão em cada região.
Nos últimos dias, o prefeito ainda endureceu o discurso contra Marçal, explorando, na TV e no rádio, a condenação do candidato por envolvimento com organização que aplicava golpes em contas bancárias, além de declarações polêmicas dele sobre mulheres, incluindo uma fala no último debate sobre mulher não votar em mulher porque é “inteligente”.
Aliados de Nunes pressionavam para que ele também subisse o tom contra Boulos, que tem explorado em debates e em inserções no rádio o boletim de ocorrência que a esposa do prefeito registrou contra o marido o acusando de violência doméstica e outros episódios envolvendo a mulher do mandatário. Nesta quarta-feira, Boulos divulgou uma nova peça de campanha no rádio, incentivando o eleitorado a buscar no Google “Ricardo Nunes esposa PCC”. Quando questionado pela imprensa, Nunes nega ter agredido a esposa, mas tem resistido a abordar temas familiares na campanha.
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