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As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

Análise | As lições para a defesa da democracia do criminalista que defendeu mais de 500 presos políticos

O ex-ministro da Justiça José Carlos Dias faz advertências em livro que conta a sua trajetória em defesa dos direitos humanos dentro e fora dos governos

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Foto do author Marcelo Godoy

Em setembro de 2017, o Tribunal de Justiça de São Paulo resolveu homenagear o advogado José Carlos Dias. A cerimônia serviu para reconhecer as “relevantes contribuições à cultura jurídica e ao Poder Judiciário, em especial pela defesa dos direitos de presos políticos durante a ditadura e seu trabalho na Comissão Nacional da Verdade”.

José Carlos Dias durante leitura do Manifesto em defesa da democracia na Faculdade de Direito da USP, em 2022 Foto: Antonio Scarpinetti/SEC Unicamp

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Em seu discurso, Dias fez referência aos casos de corrupção de então: “Sinto que é meu dever dizer algumas palavras sobre nosso país, golpeado, esquartejado pela corrupção e pelos desmandos cometidos por agentes públicos dos Três Poderes. O que se espera hoje do Judiciário, especialmente do STF? Como conciliar rigor absoluto no combate à corrupção, com absoluta intransigência no respeito ao devido processo legal e às garantias penais esculpidas na nossa Constituição?” A reflexão do criminalista permanece atual. Assim como outras reunidas no livro Democracia e liberdade: a trajetória de José Carlos Dias na defesa dos direitos humanos, de Ricardo Carvalho e Otávio Dias.

O homem que defendera mais de 500 presos e perseguidos políticos na ditadura militar e fora um dos idealizadores da Carta ao Brasileiros – lida pelo professor Goffredo da Silva Telles Júnior em 1977 na Faculdade de Direito da USP – havia aceitado em 1972 o convite de dom Paulo Evaristo Arns para compor a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. Começava um trabalho que o levaria a ocupar a Secretaria de Justiça de São Paulo, no governo de Franco Montoro, e o Ministério da Justiça, na presidência de Fernando Henrique Cardoso.

“Considero que presidir aquela comissão (Justiça e Paz) de 1979 a 1981 terá sido o trabalho mais importante da minha vida.” Dias não se limita no livro a dar seu testemunho em defesa da democracia; ele também adverte.

“Estivemos sob a ameaça de um novo golpe de Estado tramado no próprio Palácio do Planalto. (...) Nossa frágil democracia, embora tenha prevalecido, continua sob ameaça. Temos o pior e mais nefasto Congresso até hoje eleito, que parece empenhado em desfazer os avanços alcançados a partir da Constituição Cidadã. Temos um Executivo que, apesar de comprometido com a democracia, a redução das desigualdades sociais e os direitos humanos, admite jogar para baixo do tapete o passado autoritário. Um Judiciário que, embora tenha sustentado um papel fundamental na tutela da democracia, falha em cumprir no varejo suas obrigações para que a lei possa ser aplicada de maneira igualitária e imparcial a todas as pessoas.”

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E conclui: “a união de todos os democratas (...) é o único caminho para enfrentar o crescente poder da extrema direita no Brasil e no mundo.” Será que vão escutá-lo?

Análise por Marcelo Godoy

Repórter especial do Estadão e escritor. É autor do livro A Casa da Vovó, prêmios Jabuti (2015) e Sérgio Buarque de Holanda, da Biblioteca Nacional (2015). É jornalista formado pela Casper Líbero.

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