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As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

No dia de nova ação contra PCC, juiz questiona sobre providências contra ‘contador de Lulinha’

Ao aceitar a denúncia contra 19 acusados de lavagem de dinheiro do PCC no sistema de transporte de São Paulo, magistrado questionou promotores sobre o que pretendem fazer com outros investigados

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Foto do author Marcelo Godoy
Atualização:

O juiz Leonardo Valente Barreiros estava terminando de redigir sua manifestação a respeito do caso UPBus, empresa de ônibus acusada de lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), quando listou dez investigados e uma empresa que não foram denunciados, não sofreram qualquer sanção, bem como não tiveram as acusações contra eles arquivadas pelo Ministério Público Estadual. Surgia então pela primeira vez o nome do contador João Muniz Leite, conhecido como o ‘contador do Lulinha’ na decisão do magistrado que resolveu abrir processo sob as acusações de organização criminosa e lavagem de dinheiro contra 19 réus da Operação Fim da Linha.

João Muniz Leite contador da família de Lula há mais de dez anos Foto: Reprodução/Faceb

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O magistrado determinou que sejam dadas vistas no processo aos promotores para que digam o que pretendem fazer com Muniz Leite e os demais integrantes desse outro grupo de investigados. A manifestação mostra que o caso UPBus ainda pode ter desdobramentos e atingir novos personagens, depois de o juiz da 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital e determinar ainda a manutenção do bloqueio de bens de até R$ 88 milhões, decretando a prisão preventiva de três dos 19 réus nesta terça-feira, dia 16.

A própria inteligência da Receita Federal, que participou com os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) da força-tarefa da Operação Fim da Linha, alertou para o papel importante dos contadores na montagem do esquema fraudulento ligado à facção criminosa. Um deles, aliás, ligado à empresa de ônibus Transwolff, teve a prisão preventiva decretada no dia 9. A Receita também relatou o possível uso de prêmios de loterias oficiais para a lavagem de dinheiro.

É aqui que surge novamente Muniz Leite. Ele e a mulher Aleksandra Silveira Andriani ganharam juntos 640 vezes nas Lotofácil, Mega Sena e Quina entre 2020 e 2021. Muniz ficou conhecido como o Contador do Lulinha por ter trabalhado para Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem também prestou serviços. A defesa de Lulinha diz que as investigações sobre Muniz nunca atingiram o filho do presidente. Muniz negou as acusações ao ser ouvido pela polícia.

Os promotores estão agora analisando o material apreendido nas buscas realizadas no dia 9 de abril para decidir o destino do contador e dos demais acusados, assim como da empresa listada pelo magistrado ao lado do grupo, a EZ Multimarcas. Ali os fiscais da Receita encontraram uma espécie de contabilidade paralela na qual estariam listados quase uma centena de carros de luxo cuja propriedade verdadeira permanecia oculta em razão de eles terem sido transferidos para seus donos. Ao todo, 21 investigações foram abertas pela Receita com base no material apreendido.

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A expansão do PCC pelas empresas de ônibus do Estado

A decisão do juiz Barreiros no caso UPBus acontece no mesmo dia em que os promotores do Gaeco deflagraram a segunda operação – a Muditia – contra a captura do sistema de transporte público do Estado pelo PCC a fim de lavar dinheiro do tráfico de drogas e de grandes roubos praticados por integrantes da facção.

A ação dos policiais mobilizados para a Operação Muditia Foto: MP-SP

Se a primeira fase da Operação Fim da Linha levou a duas denúncias com acusações contra 29 pessoas ligadas à UPBus e à empresa Transwolff – ambas tiveram suas diretorias afastadas e sofreram intervenção judicial em razão da acusação de que eram usadas pela facção –, a ação desta terça-feira revela em parte as ramificações do esquema da facção no Estado. Os contratos em 12 municípios sob investigação do Gaeco se juntam aos de São Paulo, de Cananéia e de Iguape já sob o exame da promotoria.

E a ação não deve parar por aí. Outros municípios podem ter seus contratos na área de transporte examinados em razão da suposta ligação de empresas e políticos com as fraudes para facilitar a lavagem de dinheiro do PCC. Ou seja, os três vereadores presos nesta operação – em Cubatão, Ferraz de Vasconcelos e Santa Isabel – são apenas a ponta do iceberg sobre a conivência de políticos com o esquema.

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