Um dia depois de ser alvo de uma operação da Polícia Federal que vasculhou seu gabinete, derrubou suas redes sociais e apreendeu seu telefone celular, o senador capixaba Marcos do Val (Podemos-ES) manteve a festa de aniversário marcada para esta sexta-feira, 16, em Vitória (ES). O evento terá o lançamento de um livro sobre os seus quatro primeiros anos de mandato e um pronunciamento sobre a operação, sem perguntas da imprensa e sem transmissão ao vivo.
O convite da festa de aniversário de Marcos do Val, que contém o timbre do Senado, diz que o evento terá o “lançamento do livro que registra a sua trajetória e os quatro primeiros anos de mandato” na Casa.
O parlamentar é investigado pelo Supremo por causa de declarações feitas em fevereiro deste ano sobre uma suposta trama golpista da qual teria feito parte. Ele disse à imprensa que foi chamado para participar de uma reunião com Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira, no intuito de planejar atos antidemocráticos, e que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes teria o aconselhado a ir para coletar informações.
Conforme mostrou o Estadão na época, após receber ligações do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Do Val mudou a sua versão sobre a suposta coação, dizendo que o plano era de autoria de Silveira e desvencilhando uma possível responsabilidade do ex-presidente.
‘Intimidação’
Na noite de quinta, o senador fez seu primeiro pronunciamento à imprensa. Em entrevista à GloboNews, ele disse que a operação feita no gabinete e em dois endereços dele no Espírito Santo é uma “tentativa de intimidação”. Do Val desafiou Moraes, falando que ele deveria ser investigado, e admitiu ter mentido. Ele disse que a versão verdadeira sobre os fatos foi relatada à Polícia Federal. “O que foi dito para a imprensa não era nada oficial. Eu usei a estratégia da persuasão”, disse o senador.
As declarações feitas pelo senador lhe renderam uma investigação na PF, pelos crimes de divulgação de segredo, associação criminosa, abolição do Estado de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Somadas, as penas desses delitos chegam a 31 anos.
A participação do senador na CPMI do 8 de Janeiro também está em xeque. O deputado Rogério Correia (PT-MG) disse que apresentará na próxima terça, 20, ao presidente da Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), um pedido para que Do Val seja substituído. O fundamento da requisição é o fato do senador capixaba ser investigado por atos antidemocráticos – mesmo objeto apuração da CPMI.
Os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciaram nesta sexta que representarão contra Marcos do Val no Conselho de Ética do Senado. O colegiado tem poderes para aplicar sanções sobre o mandato parlamentar e podem fazer com que o senador perca a cadeira.
A reportagem questionou a assessoria do senador a respeito do evento desta sexta, mas ele respondeu que não comentará o caso.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.