O governo de Lula cogita nomear um ex-integrante da equipe de inteligência do Palácio de Planalto de Jair Bolsonaro para a diretoria de Tecnologia da Informação e Comunicação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Jeferson Tadeu de Souza ocupou cargos de confiança na Secretaria-Geral da Presidência de junho de 2020 até o fim do mandato do ex-presidente.
Ele ingressou como assessor técnico e, depois, coordenou as áreas de Desenvolvimento de Sistemas e de Análise de Dados e Inteligência da pasta. Nestas duas últimas atribuições, ocupou postos comissionados, considerados de confiança do então presidente.
Desde que Lula foi eleito, porém, Souza se aproximou da nova gestão e hoje é apontado como favorito a um dos cargos de direção da PRF.
Segundo interlocutores do diretor-geral da corporação, Antônio Fernando de Oliveira, o policial ganhou prestígio com o grupo quando integrou a equipe de servidores da força que trabalharam na transição e é considerado um especialista em desenvolvimento e análise de sistemas.
No último dia 8, quando golpistas invadiram as sedes dos Poderes em Brasília, Souza foi um dos 18 agentes designados para compor o gabinete de crise montado pela PRF para evitar bloqueio de rodovias federais.
Ele foi o responsável pela área de tecnologia da informação, a mesma que comandará caso se torne diretor. Seu nome, no entanto, enfrenta resistência dentro da própria corporação, devido à sua relação com a gestão passada.
Se assumir o cargo, ele ficará responsável pela gestão de dados e imagens de veículos que trafegam nas vias sob jurisdição da PRF, dos autos de infração lavrados por agentes e da rede de rádio comunicação da polícia.
As nomeações da PRF vêm sendo alvo de questionamento dentro do governo Lula. O ministro Flávio Dino, da Justiça, desistiu de nomear Edmar Camata como diretor-geral após críticas internas de que o policial fez elogios à Lava Jato e à prisão de Lula nas redes sociais.
Como mostrou a Coluna, o ex-superintendente do Piauí, cotado para assumir a Diretoria de Gestão de Pessoas, também está sob avaliação após a revelação de que ele participou da operação que afetou o trânsito de eleitores no Nordeste no segundo turno da eleição.
Procurado, Souza disse não ter relação política com Bolsonaro e que foi indicado à Secretaria-Geral após apresentar um projeto de uma plataforma que centralizasse todas as informações sobre atos normativos do País a servidores da Subchefia de Assuntos Jurídicos. Batizado de Codex, o instrumento começou a ser desenvolvido sob Bolsonaro, mas não foi finalizado.
Ele afirmou ainda que os ataques de colegas à sua indicação têm a intenção de minar a reputação do diretor-geral e partem de alas bolsonaristas da PRF.
“Eu nunca conheci o Bolsonaro. Eu tinha uma ideia e queria que ela fosse implementada, não importava em qual governo.”
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