Ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticaram a declaração do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que defendeu em entrevista ao Estadão maior protagonismo dos estados do Sul e do Sudeste em contraponto ao Norte e Nordeste. Mais cedo em Brasília o ministro da Justiça, Flávio Dino, também já havia condenado o político mineiro. “Criar divisão é um absurdo”, afirmou.
Em Belém para participar de um encontro internacional, enquanto a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmava que graças à floresta as regiões Sul e Sudeste têm chuvas e podem movimentar a economia, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que Zema isola o Estado e “subiu no palanque para 2026″. Os dois ministros estão em Belém para participar de encontro de cúpula com países da América do Sul.
Em entrevista ao Estadão no sábado, Zema questionou o peso que os Estados do Norte e do Nordeste têm nas decisões do País. “Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década. Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito”, declarou o governador mineiro defendendo reforço na atuação dos estados via consórcio dos Estados do Sul e Sudeste.
“O governador tem dado um péssimo exemplo ao Brasil. O governador presta um desserviço, primeiro, a todos os mineiros e mineiras, porque ele se isola. Esse ato do governador, essa crítica ao povo do Nordeste, primeiro me parece um lapso de memória grave. Minas Gerais tem parte do Nordeste do Brasil, o (Vale do) Jequitinhonha, o Norte (de Minas), o (Vale do) Mucuri, é Nordeste brasileiro”, afirmou Alexandre Silveira nesta segunda-feira em Belém.
O ministro disse ainda que já alertou Zema de que “as eleições acabaram”. Segundo Silveira, o governador mineiro desceu do palanque derrotado, uma vez que apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro, e “já subiu no palanque de pré-candidato para 2026″.
A ministra Marina Silva também criticou a fala do mineiro. Ela argumentou que a Amazônia, localizada no Norte e Nordeste do país, é responsável por garantir as condições climáticas que viabilizam a economia no Sul, Sudeste e Centro-oeste.
“As chuvas do Sul, do Sudeste e do Centro-oeste são produzidas pela Amazônia e os povos originários da Amazônia são responsáveis pela maior parte da preservação dessa floresta, 75% do PIB da América do Sul está relacionado às chuvas produzidas pela Amazônia”, opinou, acrescentando:
“Não é uma questão de quantidade em termos de peso populacional, é uma questão de trabalharmos com o princípio da Justiça ambiental e do PIB, dos serviços ecossistêmicos gerados por essa região. Se você fosse bombear a água produzida pela Amazônia com energia produzida por humanos, precisaríamos de 50 mil (usinas de) Itaipu. A floresta faz isso com vento e com sol. Cinquenta mil (usinas de) Itaipu é um investimento inimaginável, portanto quem mede nosso peso pela nossa quantidade precisa entender um pouco mais de qualidade.”
Os ministros estão em Belém para participar de reuniões com seus pares e representantes dos países que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Os encontros antecedem a Cúpula da Amazônia, que começa em Belém na terça-feira. O evento vai discutir compromissos entre os países do bloco para preservar o bioma.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.