BRASÍLIA - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), adotou o silêncio como estratégia no impasse entre a Petrobras e o Ibama sobre o pedido de exploração de poços de petróleo na foz do rio Amazonas. Ao ser abordada pelo Estadão nesta segunda-feira, 22, a ministra se recusou a comentar as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que é “difícil” o Ministério de Minas e Energia não conseguir autorização para extrair recursos naturais na área, numa sinalização de que deve contrariar os setores ambientalistas do governo.
Quando questionada sobre a disputa pública dentro do governo envolvendo a exploração de petróleo na foz do Amazonas, Marina se limitou a dizer que “hoje é dia da biodiversidade” e se esquivou do tema. A ministra compareceu à sede do Ibama, em Brasília, para participar de um evento de celebração da data. Sem responder às perguntas da reportagem, Marina abraçou o presidente do órgão ambiental, Rodrigo Agostinho, e entrou no auditório, onde faria o discurso de encerramento da cerimônia. Mais cedo, em sua rede social, Marina escreveu que “destruir presente de Deus é ingratidão”.
Dentro do prédio do Ibama, a ministra foi alçada ao posto de “celebridade” e posou para fotos com os convidados pelo Ibama. O mestre de cerimônias chegou a brincar com a “tietagem”, termo por ele utilizado, e pediu que os fãs da ministra se sentassem para que a solenidade pudesse começar.
Apesar do prestígio nos círculos de servidores e pesquisadores do Meio Ambiente, Marina se vê envolvida num cabo de guerra com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), que insistem em obter autorização para explorar a foz do Amazonas à revelia da rejeição do projeto pelo Ibama por causa do risco ambiental.
Marina, por sua vez, já chegou a comparar o caso com a polêmica construção da Usina de Belo Monte. Em 2008, ela rompeu com o governo petista por causa da construção da hidrelétrica. Colegas partidários da ministra do Meio Ambiente defenderam a saída dela do governo caso o projeto fosse autorizado.
Ao impor negar a o pedido da Petrobras, o presidente do Ibama apontou a “notória sensibilidade socioambiental da área de influência e da área sujeita ao risco”. A rejeição do projeto impôs uma derrota ao Ministério de Minas e Energia, que deseja ampliar a atuação da petrolífera. “Não restam dúvidas de que foram oferecidas todas as oportunidades à Petrobras para sanar pontos críticos de seu projeto, mas que este ainda apresenta inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental”, afirma Agostinho, no despacho em que nega a licença ambiental.
A disputa no primeiro escalão do governo Lula foi revelada pelo Estadão. O ministro Silveira chegou a dizer que os argumentos apresentados pelo Ibama de um “pseudorrisco” não podem impedir a prospecção dos poços de petróleo para que se tenha “conhecimento científico das potencialidades e riquezas naturais”
A região da Foz do Amazonas é chamada de “novo pré-sal” e tem sua exploração defendida por políticos da região amazônica como o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (AP), que deixou a Rede Sustentabilidade após a decisão do Ibama com apoio de Marina.
Na última sexta-feira, 19, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) se colocou como um mediador entre Marina e Silveira. Alckmin, que exercia o cargo de presidente em exercício por causa da viagem de Lula ao Japão, teve reuniões separadas com os dois titulares de ministérios em busca de um meio termo na pauta.
Como mostrou o Estadão, Alckmin decidiu preparar o terreno para a chegada de Lula. O vice-presidente se reusou a tomar qualquer decisão sobre o tema na ausência do chefe, que participava da cúpula do G-7 em Hiroshima. Alckmin chegou a brincar com seus interlocutores que “só faltava” esperarem ele decidir algo sem o presidente no território nacional.
Enquanto os integrantes do primeiro escalão disputam publicamente e apelam a Alckmin por mediação, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, tem reforçado que a decisão do órgão foi estritamente técnica e não está sujeita a “pressões políticas”. “Não é algo simples que dá para mediar. ‘Eu dou um jeitinho aqui e concedo a licença’, disse Agostinho ao Estadão na última sexta-feira.
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