A Marinha divulgou uma nota oficial nesta quarta-feira, 27, em que desmente que tenha mobilizado tanques para uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. “Em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para a execução de ações que tentassem abolir o Estado Democrático de Direito”, diz o comunicado da Força militar.
O posicionamento da Marinha vai de encontro a uma informação que consta no relatório final da Polícia Federal sobre a tentativa de ruptura institucional após o pleito presidencial de 2022. No documento, finalizado na última quinta-feira e com sigilo derrubado nesta terça-feira, 26, há menção de que a Marinha estivesse com “tanques prontos” para o intento golpista.
“Sublinha-se que a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi e nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais”, afirma a Marinha.
A menção aos tanques é feita em uma conversa entre o coronel Sérgio Ricardo Cavaliere e um contato denominado “Riva”, que não foi identificado pelo inquérito. Uma captura de tela dessa conversa foi encaminhada por Cavaliere ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Nas mensagens, Riva exalta o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, que, segundo a PF, foi o único entre os três chefes das Forças Armadas a ter aderido ao plano de ruptura institucional. Ainda de acordo com o relatório, Garnier sinalizou concordância com o plano de golpe em duas ocasiões: uma no dia 7 de dezembro de 2022 e outra no dia 14 do mesmo mês.
“O Alte. (almirante) Garnier é PATRIOTA. Tinham tanques no Arsenal prontos”, diz Riva a Cavaliere. A captura de tela foi encaminhada a Mauro Cid no dia 4 de janeiro de 2023. Os horários de envio das mensagens de Riva coincidem com o relógio do aparelho que capturou a tela, o que indica que o envio foi realizado imediatamente antes da captura de tela ser realizada e encaminhada a Cid.
A troca de mensagens entre Cavaliere e Riva também indica que Jair Bolsonaro realizou ajustes na minuta que imporia um estado de exceção no País. “Rasgaram o documento que 01 assinou”, disse Riva ao se queixar sobre a não adesão de outros militares ao plano golpista e utilizando o apelido de “01″ para se referir ao ex-presidente.
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Cavaliere e Cid foram indiciados pela PF. Já Riva, não identificado, não consta entre os 37 implicados pela corporação. Segundo o inquérito, o coronel Cavaliere integrava o núcleo da organização criminosa voltado para a incitação de militares na adesão ao plano de ruptura institucional, enquanto Cid, então ajudante de ordens do presidente, cumpriu um papel mais amplo, atuando em diversas frentes da tentativa de golpe.
O advogado Demóstenes Torres, que representa Almir Garnier na Justiça, reiterou a inocência do indiciado e disse não ter acessado a íntegra dos autos até o momento. A defesa de Mauro Cid não se manifestou. O Estadão não localizou a defesa de Sérgio Cavaliere. O espaço está à disposição.
Leia a nota da Marinha na íntegra
Em relação às matérias veiculadas na mídia que mencionam “tanques na rua prontos para o golpe”, a Marinha do Brasil (MB) afiança que em nenhum momento houve ordem, planejamento ou mobilização de veículos blindados para a execução de ações que tentassem abolir o Estado Democrático de Direito.
Sublinha-se que a constante prontidão dos meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais não foi e nem será desviada para servir a iniciativas que impeçam ou restrinjam o exercício dos Poderes Constitucionais.
A Marinha do Brasil, instituição nacional, permanente e regular, assegura que seus atos são pautados pela rigorosa observância da legislação, valores éticos e transparência. Ademais, a MB encontra-se à disposição dos órgãos competentes para prestar as informações que se fizerem necessárias para o inteiro esclarecimento dos fatos, reiterando o compromisso com a verdade e com a justiça.
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