Após selar acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy entregou ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), nesta terça-feira, 9, sua carta de demissão da gestão municipal. No documento, ela cita mudanças na conjuntura política da cidade e diz que seguirá “caminhos coerentes” com sua “trajetória, valores e princípios”.
Procurada, a Prefeitura afirmou que “Nunes chamou nesta terça-feira, dia 9, Marta Suplicy na sede da Prefeitura para esclarecer as informações veiculadas pela imprensa. Ficou decidido, em comum acordo, que ela deixa as suas funções na Secretaria Municipal de Relações Internacionais.
Marta precisou interromper as férias para a reunião com Ricardo Nunes. “Neste momento em que o cenário político da nossa cidade prenuncia uma nova conjuntura diferente daquela em que, em janeiro de 2021, tive a honra de ser convidada por Bruno Covas, para assumir a Secretaria Municipal de Relações Internacionais encaminho, nesta data, de comum acordo, meu pedido de demissão deste cargo”, disse a ex-prefeita.
Apesar do tom de despedida amigável da carta, a cisão ocorre em meio a acusações de traição feitas por integrantes do Executivo paulistano. Isso porque ela se manteve no cargo até chegar a um acordo com Boulos, principal adversário de Nunes. A costura prevê que ela retorne ao PT, partido que a projetou para a política.
“Como em outras passagens de minha vida pública, seguirei caminhos coerentes com minha trajetória, princípios e valores que nortearam toda minha vida pública e que proporcionaram construir o legado que me trouxe até aqui”, diz na carta.
Mais cedo, nas redes sociais, o ministro de Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), afirmou que a ex-senadora aceitou o convite feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para formar uma chapa com Boulos. Fora do PT desde abril de 2015, Marta foi prefeita de São Paulo entre 2001 e 2004. Além disso, foi deputada federal e ocupou ministérios nas gestões petistas de Lula e Dilma Rousseff.
Apesar da declaração de Paulo Teixeira, também nesta terça, em evento de anúncio de apoio do PDT a Boulos, tanto o pré-candidato do PSOL quanto o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), que o acompanhava, negaram que já haja um acordo oficializado para que Marta Suplicy seja a vice na chapa. Falcão realçou, porém, que “todos viram” as articulações envolvendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que ela volte à legenda. Boulos disse que é “razoável” ter Marta como vice e elogiou o trabalho dela no comando da prefeitura da capital.
Leia também
O provável retorno de Marta ao PT já gera desavenças entre petistas. Lula é um dos principais entusiastas à volta da ex-senadora, porém uma ala do partido é contra a ideia, acusando Marta de traição por conta de seu voto a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2016. Procurada, a ex-prefeita não foi encontrada para se manifestar.
O dirigente nacional do PT Valter Pomar publicou um artigo nesta terça-feira, 9, sugerindo que o possível retorno de Marta ao PT seja decidido em votação no Diretório Nacional do partido. “Votarei contra. O motivo principal é: senadora eleita pelo PT, Marta traiu seu eleitorado e seu partido, votando a favor do golpe contra Dilma. Desconheço que ela tenha feito alguma autocrítica a respeito. E, em qualquer caso, não vejo porque trazer de volta para casa quem praticou tamanha violência”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.