O Movimento Brasil Livre (MBL) anunciou na noite deste sábado, 4, o nome e a logo do partido que pretende lançar. A ideia de ter uma denominação própria é antiga, foi catapultada e agora tem nome e rosto: caso obtenha as assinaturas necessárias, o novo partido se chamará Missão e terá uma bandeira nas cores amarelo, preto e branco, com o desenho de uma onça-pintada.
O anúncio foi feito durante o 8º Congresso do MBL, que aconteceu neste sábado em um espaço de eventos na Mooca, zona leste de São Paulo, com participação do senador paranaense Sérgio Moro, que hoje é filiado ao União Brasil, mesma sigla do deputado federal Kim Kataguiri (SP), um dos fundadores do MBL e pré-candidato à prefeitura de São Paulo.
Os ingressos para o evento foram vendidos a partir de R$ 250 e custavam até R$ 1.000 para quem, de última hora, quisesse acesso à área VIP. Neste momento, o MBL está no trâmite de obter um CNPJ, para depois angariar as mais de 500 mil assinaturas necessárias para abrir, de fato, o Missão.
O ex-presidente Michel Temer era um dos nomes confirmados para o evento, mas, segundo os organizadores, o emedebista precisou desmarcar por questões de agenda. O público do evento era predominantemente jovem — a maioria está na casa dos 30 anos e havia alguns adolescentes.
Questionado pelo Estadão, Kataguiri negou que os passos dados para tirar o partido do MBL do papel tenham a ver com as eleições ou com uma tentativa de angariar um capital político mais robusto para o seu nome. “Tenho muita segurança de que terei a legenda (o apoio do União Brasil) para disputar a eleição. Não há consenso, mas tenho a maioria”, assegurou o parlamentar.
Hoje, há trinta partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na avaliação de Kataguiri, esse número é pequeno — para ele, o excesso está na quantidade de siglas representadas no Congresso. Por isso, o deputado se coloca a favor da cláusula de barreira, que impede que partidos com menos votos tenham tempo de TV e acesso a determinados recursos públicos.
“O MBL não é mais um partido. A maior parte dos partidos é um ajuntamento de pessoas que não têm ideologia nenhuma e que estão lá para disputa a eleição”, disse. Segundo o mentor do MBL, a ideia é que o partido do movimento subverta essa lógica e tenha unidade política, o que vai de encontro à aposta em projetos como a “Academia MBL”, um grupo interno de formação de “talentos” para a política.
Kataguiri foi apontado pelo movimento como pré-candidato à Prefeitura da capital paulista depois de vencer as prévias do MBL no começo de junho deste ano, desbancando o deputado estadual Guto Zacarias, que também é do União Brasil.
Uma ala do partido, no entanto, apoia a reeleição de Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito e aposta número 1 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se elegeu em 2018 com o apoio do MBL e, ainda no primeiro ano de mandato, rompeu com o grupo. A sigla tem até abril de 2024 para decidir a direção dos seus esforços — se banca um candidato próprio ou aposta no emedebista.
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‘Sou o deputado mais odiado da história da Alesp’
O ex-deputado estadual Arthur do Val esteve em tantas mesas quanto Kataguiri durante a programação do Congresso. Em maio de 2022, ele foi cassado pelos pares da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) por causa do vazamento de um áudio, enviado por ele a um grupo de amigos, no qual o ex-parlamentar diz que as mulheres ucranianas são “fáceis” por serem “pobres”, em referência ao contexto do começo da guerra no País.
Do Val disse ao Estadão que deixou o MBL por alguns meses “para não contaminar” o movimento, mas retornou para o grupo semanas depois, onde foi acolhido. “Isso mostra como o MBL é diferente dos outros. Ninguém ficou fazendo conta eleitoral do que aconteceria se me abraçasse”, disse à reportagem.
À época, do Val foi desfiliado do Podemos, partido do qual fazia parte. Sérgio Moro, que ainda era pré-candidato à Presidência pela sigla, também repudiou o comportamento do então correligionário. Em nota, ele disse que a fala de do Val era “inaceitável em qualquer contexto”. “Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas que têm esse tipo de opinião e comportamento”, afirmou. Assim como do Val, Moro marcou presença no evento do MBL deste sábado.
Hoje, do Val não descarta a possibilidade de concorrer de novo. “Não é uma aspiração minha, mas, se for necessário voltar para a vida eleitoral e a leitura dos meus colegas do movimento for de que é necessário, a gente recorre”, disse o ex-deputado, em referência ao seu processo de cassação.
Ele afirma que o procedimento foi político e com nulidades, mas que ainda não foi à Justiça. “Vou questionar (a cassação) no momento oportuno. É uma possibilidade.” Ele atribui a politização da sua perda de mandato às ações que teve como parlamentar. “Sou o deputado mais odiado da história da Alesp”, disse.
Produtos da marca ‘Valete’
Na parte dos produtos à venda, mais frequentes do que os objetos com a logo do MBL são os que têm o nome “Valete”. Esta é a nova revista do movimento, cujos exemplares foram vendidos no congresso por R$ 150 a unidade. Uma das capas alfineta o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, sugerindo que o magistrado tem “superpoderes”.
Os textos da publicação têm artigos densos de jornalistas e pensadores consagrados da direita — mimetizando formatos editoriais bem explorados pela esquerda. Mas além da revista, a marca estampa embalagens de pó de café, canecas, porta-copos e até baralho de cartas.
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