Um dos profissionais de saúde que aparecem em um print que foi vazado do grupo de WhatsApp “Médicos Unidos”, do Acre, debochando do estado de saúde da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é a ginecologista Grace Monica Alvim Coelho. Ex-secretária de Saúde do Estado do Acre, ela comandou a pasta na gestão petista de Jorge Viana (1999-2004). “Coisas da vida... E da vacinação!”, escreveu Grace na troca de mensagens ao comentar a internação de Marina.
Os outros dois profissionais da conversa são Nilton Torrez Chavez e Jorge Lucas da Fonseca. Chavez é especialista em cirurgia torácica e escreveu: “Tomara que os vírus da covid estejam bem”. Fonseca é clínico geral – e quem enviou a notícia de que a ministra fora diagnosticada com coronavírus. “Será que ela tomou a vacina?”, perguntou.
Chavez foi procurado por meio de ligações e mensagens, mas não retornou à reportagem. Fonseca não foi localizado e apagou suas redes sociais. Já Grace disse ao Estadão que a divulgação do diálogo foi orquestrada por opositores, negou ter debochado da ministra e afirmou ser apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): “Claro, nunca escondi isso (ser bolsonarista) de ninguém”, disse. “Não escrevi absolutamente nada sobre Marina ou sua doença, e sim a respeito da vacinação.”
O caso foi revelado pelo Portal ContilNet, do Acre. Marina está internada desde sábado, 6, em virtude do diagnóstico positivo para covid-19. Embora o caso não seja grave, ela precisou ficar hospitalizada para fazer exames. De acordo com o boletim médico desta terça-feira, 9, divulgado pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), em São Paulo, a previsão é de que a ministra receba alta nesta quarta, 10.
Grace, que atua na medicina há 40 anos, afirmou que “não crê em mentiras” ao ser questionada sobre a vacina. “Tenho uma carreira sólida e reconhecida por causa da minha dedicação. Fui secretária de Estado do governo Jorge Viana, do PT, a quem admiro muito, assim como (admiro muito) a Marina. Mas, como qualquer pessoa que vive num país pleno e livre, optei por defender o que acredito ser melhor para o meu país e minha família.”
A médica defendeu a liberdade de expressão dos membros do grupo de WhatsApp. “Trata-se de um grupo fechado de médicos, que têm o direito de se expressar da forma que bem entendem. Infelizmente, alguém privado de discrição e bastante mal intencionado achou por bem divulgar esse assunto”, afirmou.
Entusiasta declarada do ex-presidente, Grace elogia Bolsonaro em redes sociais, chamando-o de “maior e melhor pai do mundo” e lamentando que ele tenha perdido a eleição de 2022, quando foi derrotado pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sindicância
O caso ganhou repercussão negativa para os profissionais de saúde. O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) divulgou uma nota afirmando que o grupo de WhatsApp de onde saiu o print não está relacionado com a entidade.
“O único grupo oficial é chamado de ‘Filiados’, existindo regras claras que proíbem a manifestação política, permitindo apenas assuntos médicos, debates trabalhistas, sindicais e a divulgação de informações do sindicato. Os membros deste sindicato também prestam solidariedade à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e desejam boa recuperação”, diz a nota do Sindmed-AC.
Como mostrou o Estadão, nesta quarta-feira, 10, o Conselho Regional de Medicina do Acre abriu sindicância para investigar a conduta ética dos profissionais envolvidos no episódio. Em nota, o CRM afirma que “diante da divulgação de informações pela imprensa sobre comentários feitos, supostamente, por médicos que atuam no Estado do Acre” determinou a investigação dos fatos: “A apuração terá como parâmetro as normas e os critérios estabelecidos pelo Código de Processo Ético-Profissional e pelo Código de Ética Médica”.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, chamou os comentários dos três médicos de “deboche misógino de médicos bolsonaristas”. “É infame ver profissionais da saúde com tanto ódio que usurpa até mesmo o princípio básico da medicina”, disse a deputada federal pelo Paraná. Usuários das redes sociais e outros grupos de médicos criticaram as mensagens enviadas por Grace, Chavez e Fonseca.
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