Aliados de Jair Bolsonaro (PL) elaboraram um plano detalhado para garantir sua fuga caso o golpe de Estado planejado após as eleições de 2022 fracassasse. O esquema, inicialmente discutido após as manifestações de 7 de setembro de 2021, incluía estratégias militares, ocupação de locais como os Palácios do Planalto e Alvorada e apoio logístico das Forças Armadas, com o objetivo de proteger Bolsonaro e garantir sua retirada para um local seguro fora do País.
As informações estão em um relatório de 884 páginas da Polícia Federal (PF), enviado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que retirou o sigilo do documento e o encaminhou nesta terça-feira, 26, à Procuradoria-Geral da República (PGR). O relatório pede o indiciamento de 37 pessoas, incluindo Bolsonaro.
De acordo com a PF, o planejamento da fuga começou a ser discutido após as manifestações de 7 de setembro de 2021, realizadas em Brasília e São Paulo, onde Bolsonaro fez ameaças diretas ao STF e questionou a legitimidade do sistema eleitoral. Durante os atos, Bolsonaro afirmou que não participaria de uma “farsa” eleitoral e insinuou a possibilidade de uma ruptura institucional, sinalizando aos seus apoiadores a adoção de medidas mais contundentes. As declarações impulsionaram a elaboração de estratégias para garantir sua fuga caso seus planos de reverter o resultado eleitoral fracassassem.
O relatório da PF aponta que o plano de fuga foi estruturado a partir de conceitos militares conhecidos como RAFE (Rede de Auxílio à Fuga e Evasão) e LAFE (Linha de Auxílio à Fuga e Evasão), utilizados em operações de guerra para resgatar alvos em território hostil. No caso de Bolsonaro, essas táticas foram adaptadas para criar rotas seguras e redes de apoio capazes de viabilizar sua retirada do Brasil caso as tentativas de golpe não obtivessem sucesso.
Entre os detalhes, consta a previsão de ocupar instalações estratégicas como os Palácios do Planalto e Alvorada, transformando esses locais em zonas de proteção temporária. O objetivo era criar barreiras para impedir o cumprimento de eventuais mandados de prisão e fornecer suporte logístico ao ex-presidente. Além disso, foram planejadas ações coordenadas para desviar a atenção das autoridades e facilitar sua saída por vias alternativas, como rotas clandestinas ou transporte aéreo militar.
Conforme o documento, a participação de militares seria essencial no esquema, com sua mobilização para garantir a segurança de Jair Bolsonaro durante o deslocamento para locais seguros. O relatório também aponta que o plano incluía o uso de armamentos e veículos do Exército Brasileiro para transportar o ex-presidente até pontos estratégicos previamente definidos.
O planejamento ganhou força após o segundo turno das eleições de 2022, que resultaram na vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. Reuniões realizadas no Planalto entre militares e assessores próximos a Bolsonaro ajustaram os detalhes das ações. Paralelamente, os investigadores apontam que houve um esforço para mobilizar apoiadores e pressionar comandantes das Forças Armadas a aderirem ao golpe, estratégia que acabou frustrada pela resistência de parte do Alto Comando.
O documento também revela que o plano de fuga, inicialmente elaborado em 2021, foi adaptado no final de 2022, após o fracasso da tentativa de golpe de Estado. Sem o apoio necessário das Forças Armadas para impedir a posse do governo eleito, Bolsonaro deixou o Brasil no dia 30 de dezembro de 2022, dois dias antes do término de seu mandato. Segundo os investigadores, a saída para os Estados Unidos tinha como objetivo evitar uma possível prisão e acompanhar à distância os desdobramentos dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, que culminaram na invasão das sedes dos Três Poderes por seus apoiadores.
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