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‘Militares querem olhar para o futuro’, diz Celso Amorim, para quem protestos são ‘página virada’

Ex-ministro da Defesa e das Relações Exteriores, conselheiro de Lula afirma que comando das Forças Armadas respeita as instituições e é isso o que interessa

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Foto do author Lauriberto Pompeu
Atualização:

BRASÍLIA – O ex-ministro da Defesa Celso Amorim disse ao Estadão que protestos contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva e atos antidemocráticos não vão prevalecer no País após a saída do presidente Jair Bolsonaro. “Eles (militares) querem olhar para o futuro. Todos querem olhar para o futuro. É página virada. A própria eleição virou isso para trás”, afirmou Amorim, que foi chanceler nos governos de Lula e Itamar Franco e titular da Defesa na gestão de Dilma Rousseff.

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Os militares ganharam protagonismo político sob Bolsonaro. Além do Ministério da Defesa, para o qual Lula vai escolher um civil, integrantes das Forças Armadas chegaram a comandar Saúde e Minas e Energia, sem contar estatais, como Correios e Petrobras.

Desde o fim do período eleitoral, apoiadores radicais de Bolsonaro estão acampados em frente a quartéis pedindo, entre outras coisas, a anulação da eleição de Lula e intervenção militar. Em outra frente, mais de mil protestos com bloqueios de estradas foram desfeitos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Diante desse quadro, os militares optaram por adotar uma postura dúbia.

Como antecipou o Estadão, no último dia 11, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica declararam ser a favor do direito de manifestação, mas se posicionaram contra “excessos”. Ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas foi além e elogiou os bolsonaristas que atacam o resultado das urnas e o Judiciário, destacando a “incrível persistência” desses apoiadores do presidente.

Celso Amorim é o principal conselheiro de Lula para o tema de relações internacionais. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Amorim não vê os gestos com preocupação e afirma que o comando das Forças Armadas respeita as instituições democráticas. “Ele (Villas Bôas) já é uma pessoa da reserva há muito tempo, não tem nenhum sentido mais, não tem mais peso. Pode ser respeitado por alguns, admirado, mas não tem peso, observou.

Até agora, o mais cotado para chefiar o Itamaraty no futuro governo Lula é o embaixador Mauro Vieira, que foi ministro das Relações Exteriores na gestão Dilma e tem a confiança de Amorim.

O presidente Jair Bolsonaro interferiu nas Forças Armadas e há hoje uma relação conturbada de militares com o PT. O general Villas Bôas, por exemplo, chegou a incentivar protestos contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Isso pode ser superado?

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Tudo na política é delicado. Isso não vai prevalecer. Eles (militares) querem olhar para o futuro, todos querem olhar para o futuro. É página virada. Isso ficou para trás, a própria eleição virou isso para trás. Ele (Villas Bôas) é da reserva há muito tempo, não tem nenhum sentido mais, não tem mais peso. Pode ser respeitado por alguns, admirado, mas não tem peso. Nas Forças Armadas o que interessa é o Alto-Comando.

Além de fazer parte da equipe de Relações Exteriores no gabinete de transição do governo, o senhor também vai integrar o grupo da Defesa?

Vão nomear ainda... Às vezes me surpreendem. Eu não sabia nem que ia fazer parte do grupo de Relações Internacionais e me colocaram.

E como tem sido o diálogo com o atual governo? Na conversa que teve com o senhor, o atual chanceler, Carlos França, se mostrou disposto a ajudar?

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Foi uma conversa cordial, amistosa. Ele teve uma atitude positiva, republicana, veio me visitar aqui em São Paulo, facilitando o trabalho de transição do ponto de vista administrativo. Nós já temos pessoas (na equipe de transição) designadas pela comissão para atuar lá dentro (do Itamaraty). Não para tomar decisões, mas para se informar, para ver orçamento, essas coisas.

Qual vai ser o perfil do novo ministro das Relações Exteriores? Será necessariamente um diplomata de carreira?

Não sou eu que decido isso. Não é o grupo de trabalho (da transição) que decide isso tampouco. É o presidente. O perfil tem de ser de uma pessoa competente, que entenda de relações internacionais.

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O senhor pode voltar a ser chefe do Itamaraty?

Não sei. Quem julga isso não sou eu.

Como o senhor avalia a eleição de Ilan Goldfajn para comandar o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)?

O Brasil adotou a posição que podia adotar. Não tinha de sair correndo apoiando... O candidato já tinha sido apresentado pelo outro governo (Ilan foi indicado pelo governo Bolsonaro). Também não vetamos. Acho que o Tesouro americano tinha muito interesse na eleição dele e ele ganhou. Não levantamos objeções.

Mas o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega chegou a anunciar que o governo eleito poderia escolher outro nome.

Nome brasileiro não teve. Não posso falar pelo Mantega e não tive nenhuma instrução do presidente nesse sentido. A única instrução do presidente foi que pudéssemos buscar o mais amplo consenso latino-americano com qualquer nome.