Militares investigados por golpe achavam que José Dirceu tinha ido a Cuba articular ‘contragolpe’

Integrantes das Forças Armadas receberam mensagens oriundas de grupo de WhatsApp em que havia informação de que generais do Alto Comando do Exército não teriam concordado com ruptura

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Foto do author Heitor Mazzoco

Dois militares investigados pela Polícia Federal (PF) por uma suposta tentativa de golpe de Estado no final de 2022 pensaram que José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi para Cuba na tentativa de articular um “contragolpe”. A informação está no relatório final do inquérito das Operações Tempus Veritatis e Contragolpe.

A conversa sobre o assunto ocorreu entre o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, lotado no Comando de Operações Terrestres do Exército – Coter, e o coronel Dougmar Nascimento das Mercês, que era assessor da chefia do Emprego no Coter. O Estadão procura a defesa dos envolvidos. O espaço está aberto para manifestação.

Férias de Dirceu virou comentário entre militares investigados por Golpe: 'vai articular a reação'  Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

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A troca de mensagens entre os dois ocorreu no dia 17 de dezembro de 2022. De acordo com a análise da PF, Marques de Almeida repassou notícia veiculada em página da internet, que traz a informação de que José Dirceu viajou para Cuba para férias. “Ele deve estar querendo ficar de fora desse período. Se der m..., ele já está em asilo”, escreveu no WhatsApp.

Em resposta, Mercês disse: “Verdade! Vai articular lá de fora a reação”. De acordo com a conclusão da PF enviada à Procuradoria-Geral da República (PGR), a conversa entre os dois militares evidencia “que os militares tratavam de uma possível subversão do Estado Democrático de Direito no Brasil”.

Quatro dias depois, em 21 de dezembro, Mercês encaminha mensagem para Marques de Almeida, oriunda de um grupo de WhatsApp, sobre o general Freire Gomes, comandante do Exército, e o Alto Comando do Exército, que não teriam concordado com o Golpe de Estado.

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“Manobra definida. Nada acontecerá. O Cmt EB e o ACE não toparam infelizmente. Vida que segue. Mais à frente veremos quem estava certo. Selva!”. Na sequência, Mercês pergunta para Marques de Almeida se a mensagem é verdadeira.

Em resposta, segundo a PF, Marques de Almeida evidencia sua aderência à tentativa de golpe de Estado. “Putz. Precisa esperar o tempo passar para ver que vai dar m....? Precisa destruir tudo para entender que tudo será destruído? A culpa e o arrependimento que eles carregarão não diminuirá o sofrimento do País todo!” Mercês diz então ainda ter esperanças e Marques de Almeida responde: “Se não for isso, é muita irresponsabilidade, muita frouxidão, covardia, cagaço!”.

Trecho em que militares falam sobre viagem de ex-ministro petista Foto: Reprodução via PF

Ainda no dia 21 de dezembro, Maques de Almeida encaminhou mensagem para Mercês de outro grupo de WhatsApp. “Confirmou o que eu falei os Generais do EB não estão apoiando o presidente, ele está só! (sic) Acabou o EB”.

“O conteúdo da mensagem ratifica os fatos investigados, evidenciando que o então presidente da República Jair Bolsonaro estava executando uma tentativa de Golpe de Estado, que não se consumou pelo fato de o Alto Comando do Exército não ter aderido ao intento golpista”, afirma a PF.

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