Quem é covarde? O presidente Lula, que admite “desconfiança” em relação a militares, depois da tentativa de golpe contra a sua eleição, as instituições e a democracia? Ou os civis e militares que participaram, ou não viram, não ouviram e não sabiam da invasão de Planalto, Congresso e Supremo?
Se Lula precisa equilibrar sua justa indignação e a premência de normalização das Forças Armadas, é preciso mais ainda que militares relevantes como o general da reserva Sérgio Etchegoyen não joguem mais lenha na fogueira. Quem lucra? O País, o governo constituído e as Forças Armadas.
Lula e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, se reúnem nesta sexta-feira, 20, com os comandantes militares num clima tenso, com muito a ser dito e ouvido. O presidente, comandante em chefe das Forças Armadas, tem o poder e o direito de demonstrar indignação e suspeitas.
Em entrevista a Natuza Nery, da GloboNews, ele falou em “mágoa” e indagou por que: o Planalto estava a descoberto no fatídico domingo, 8/1?, as portas do Planalto estavam abertas?, as inteligências das três Forças não detectaram o perigo e, se detectaram, não levaram adiante? Bem… A Abin já vinha alertando e a PF formalizou de véspera o altíssimo risco de “danos”, citando Planalto, Congresso e STF. Por que isso não chegou a Lula e os outros radares não detectaram?
Além de falar do seu incômodo e suas dúvidas, Lula vai repetir que: não importa em quem cada um vota, mas os que querem fazer política devem despir a farda; os comandantes têm responsabilidade e, não importa a patente, se soldado ou general, os envolvidos nos atos têm de ser punidos e “responder perante a lei”. Em suma: vai cobrar ordem e disciplina.
Lula, porém, vai se mostrar aberto a reivindicações e não só verbalizou a importância de Forças Armadas bem equipadas como anunciou encontro com Josué Gomes da Silva, da Fiesp, que estará na reunião de hoje, para discutir a indústria de defesa.
Nos mandatos de Lula, as três Forças tiveram o mais espetacular programa de renovação em décadas, mas os comandantes têm também outras demandas mais subjetivas: não mexer nos currículos dos institutos e colégios militares, nos critérios de promoção, na paridade da ativa e da reserva e nas reformas da Previdência e administrativa no que se refere a militares.
Ou seja: a reunião de hoje é um pacto de convivência. De um lado, os comandantes se comprometem a agir firmemente contra golpistas e a bolsonarização dos quartéis. De outro, Lula promete estudar as reivindicações das três Forças. Não é covardia nem de um lado nem de outro. É o oposto: a coragem de fazer a coisa certa.
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