ENVIADA ESPECIAL, LISBOA – O assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim, deve visitar a Ucrânia, afirmou nesta sexta-feira, 21, em Lisboa o ministro-chefe da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo. A viagem, que ainda não tem data marcada, deve servir para ajudar o Brasil a retomar a posição de neutralidade em relação à guerra na Ucrânia, arranhada depois que o petista Lula deu declarações colocando o país no mesmo patamar da Rússia em relação ao conflito.
Lula escalou Macêdo e o embaixador brasileiro em Portugal, Raimundo Carreiro, para um encontro com representantes da comunidade ucraniana em Lisboa. A reunião, que ocorreu nesta sexta na embaixada, foi solicitada pelos ucranianos ao governo brasileiro. Lula chegou nesta sexta a Portugal, seguirá depois para a Espanha e terá agendas oficiais até terça-feira. Amorim já esteve em Moscou em encontro com o presidente russo, Vladmir Putin.
Segundo Macêdo, os ucranianos entregaram uma carta solicitando que Lula atue para a paz na Ucrânia e convidando-o a visitar o país em guerra. “Eu explicitei bem a eles a posição do governo brasileiro e do presidente Lula, a vocação do Brasil e do presidente Lula pela paz. Disse que os recebia na casa do Brasil em Portugal com muita honra. Disse também que o presidente vai trabalhar para juntar outros países para buscar uma alternativa para acabar com o conflito”, disse.
‘Divergentes’
Além dos ucranianos, as declarações de Lula sobre a guerra irritaram também os portugueses. Membro da União Europeia e da Otan, Portugal tem se posicionado firmemente contra a invasão russa à Ucrânia. Às vésperas de receber Lula, o primeiro-ministro português, António Costa, teve de responder publicamente por estar prestando homenagens ao presidente brasileiro e declarou que é normal que “países irmãos tenham posições divergentes em algumas questões”.
Durante viagem à China e aos Emirados Árabes Unidos na semana passada, Lula acusou a Ucrânia de ser responsável por uma guerra na qual é vítima das investidas da Rússia. O presidente também havia dito que americanos e europeus incentivam o conflito.
As declarações geraram reações dos Estados Unidos e da União Europeia, que enviaram duras respostas ao governo brasileiro. A Casa Branca disse que o posicionamento do presidente brasileiro em relação à Ucrânia é “profundamente problemático” e “equivocado”. Já o porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, negou que ações do bloco tenham alimentado o conflito e disse que a Rússia é a agressora.
Os posicionamentos vieram à tona na segunda-feira, no dia em que o chanceler russo, Sergei Lavrov, foi recebido em Brasília. No dia seguinte, Lula mudou o tom. “Ao mesmo tempo que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito”, disse Lula, em almoço com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, país vizinho da Ucrânia.
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