BRASÍLIA - O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ganhou o cargo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após ser indicado por um consórcio de políticos que incluem o senador Davi Alcolumbre (União-AP), o deputado e pastor Cezinha Madureira (PSD-SP) e até a deputada Danielle Cunha, filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PTB-SP). Com a pasta, Juscelino controla uma verba de R$ 3 bilhões na Esplanada dos Ministérios. Entre os políticos do grupo a explicação é de que ele foi escolhido por “ser um bom menino”.
O Estadão revelou nesta segunda-feira, 30, que o ministro usou o orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a oito fazendas dele e da sua família na cidade de Vitorino Freire (MA), onde sua irmã é prefeita. Juscelino construiu uma pista de pouso e um heliponto na sua Fazenda Alegria para uso particular no local. A empresa contratada para fazer a obra é de um conhecido de longa data do ministro, preso no ano passado após ser acusado de fraudar licitações e pagar propina em troca de obras na prefeitura da cidade maranhense.
O ministro é filiado ao União Brasil e foi eleito para o terceiro mandato como deputado federal nas eleições de 2022. Ele foi um dos últimos ministros a serem anunciadas por Lula durante a transição de governo. O União Brasil brigava pela vaga. A bancada do partido na Câmara queria outros nomes para compor o ministério de Lula, como o líder da sigla na Casa, Elmar Nascimento (BA), ou o deputado Celso Sabino (PA). O PT tentou emplacar o deputado Paulo Teixeira (SP), que acabou sendo alocado no Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A indicação de Juscelino não passou pela bancada do partido na Câmara, mas chegou a Lula com o apadrinhamento do senador Davi Alcolumbre (União-AP), líder da legenda no Senado e um dos principais operadores do orçamento secreto no Congresso. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deu o “ok” para a escolha, de acordo com interlocutores. O ministro foi nomeado para o cargo sem ter experiência na área de Comunicações. Juscelino é médico especialista em radiologia.
Mas não é só Alcolumbre que está por trás do ministro. O nome de Juscelino Filho foi avalizado também pela deputada eleita Danielle Cunha (União-RJ). Ela é filha de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, que tentou voltar à Casa por São Paulo nas eleições, mas foi derrotado. Cunha continua atuando nos bastidores da política em Brasília. Outro político que participou da escolha de Juscelino Filho é o senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado do ministro no Maranhão e também beneficiário do orçamento secreto.
O deputado Cezinha Madureira (PSD-SP) também é padrinho de Juscelino Filho no cargo. Cezinha é um dos expoentes da bancada evangélica e pastor da Igreja Assembleia de Deus Madureira, comandada pelo bispo Samuel Ferreira, a mesma igreja de Cunha. Ele foi aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, coordenou a campanha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e agora é vice-líder do governo Lula na Câmara. O deputado emplacou um aliado, o engenheiro Wilson Diniz Wellisch, para uma das principais secretarias do ministério, a Secretaria de Radiodifusão, responsável pela concessão de rádio e TV, setor que tanto interessa políticos e o segmento religioso. Cezinha confirmou, via assessoria, que apoiou a indicação do ministro e do secretário.
Juscelino Filho foi um dos principais beneficiados pelo orçamento secreto nos últimos três anos. Só no ano de 2020, o deputado federal apadrinhou R$ 50 milhões em emendas para municípios do Maranhão, seu reduto eleitoral. Uma das obras é a estrada que passa em frente à Fazenda Alegria, onde o ministro construiu uma pista de pouso e um heliponto para uso particular. No total, oito fazendas dele e da família terão acesso asfaltado graças ao recurso indicado por Juscelino. O União Brasil, partido do ministro, comanda a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), duto do orçamento secreto, de onde saiu o dinheiro da emenda, e quer continuar com o controle da estatal no governo Lula.
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