Lula descarta substituição de ministra do Turismo e vê fogo amigo no episódio

Em conversas reservadas, presidente diz não ter visto nada que desabone ministra; titulares da Casa Civil e das Relações Institucionais vão na mesma direção

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Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia não haver fatos para substituir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Em conversas reservadas, Lula disse não ter visto nada que desabone a ministra, embora ela tenha recebido apoio de milicianos na campanha. Lula sempre condenou a aproximação de Jair Bolsonaro, hoje ex-presidente, com integrantes da milícia. Na sua avaliação, porém, Daniela do Waguinho – como é conhecida – pode ter sido vítima de fogo amigo.

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O Estadão apurou que uma ala do próprio União Brasil, partido de Daniela, quer trocá-la porque ela não foi uma indicação da bancada da Câmara. O nome da ministra foi sugerido pelo presidente do União, deputado Luciano Bivar (PE), e pelo senador Davi Alcolumbre (AP). O fato provocou contrariedade no partido, que também não gostou do fato de Acolumbre ter indicado Waldez Góes, ex-governador do Amapá, para o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional. Amigo do senador, Góes é filiado ao PDT, mas vai se afastar da sigla.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, minimizou nesta quarta-feira, 4, as suspeitas de relação de Daniela com integrantes de uma milícia no Rio. Costa também negou que haja pressão do partido da ministra, o União Brasil, para que ela seja demitida e substituída por outro integrante da bancada federal na Câmara. Tampouco abalo no apoio do partido ao governo.

“Não tem nada até aqui, nenhuma repercussão ou materialidade concreta que crie algum tipo de desconforto. Se surgirem coisas novas, aí é outra história, mas até o momento não há nada”, afirmou Costa.

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O ministro da Casa Civil, Rui Costa, saiu em defensa da nomeação da ministra do Turismo Foto: Evaristo Sá / AFP

Nos bastidores do governo, há, porém, um constrangimento e reclamações de militantes de esquerda com a participação da ministra no primeiro escalão de Lula. O tema foi um dos mais citados nas redes sociais, com cobranças tanto da oposição quando da esquerda pela demissão de Daniela.

O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, também saiu em defesa da ministra. “Nada do que tem até agora desabona a atitude desta ministra”, declarou Padilha à Globonews.

Daniela Carneiro foi a mais votada deputada federal do Rio, no ano passado. Teve 213.706 votos, com base política na Baixada Fluminense. Na campanha, ao lado do marido, o prefeito de Belford Roxo, Wagner Carneiro, o Waguinho, aliou-se a Lula e ao PT.

O casal fez campanha com apoio da esposa de um miliciano, como cabo eleitoral. Mulher de Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado e preso por chefiar uma milícia há quatro anos, a ex-vereadora de Nova Iguaçu Giane Prudêncio, a “Giane Jura”, participou do grupo político que apoia a ministra nas eleições de 2018 e 2022. Giane aparece ao lado da ministra do Turismo em fotos nas redes sociais. A proximidade entre elas foi revelada pelo jornal Folha de S.Paulo.

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Ex-sargento da Polícia Militar fluminense, Jura cumpre pena de 26 anos de prisão – atualmente, em regime semiaberto – pelos crimes de associação criminosa e homicídio. Ele chegou a ser nomeado na prefeitura de Belford Roxo para um cargo comissionado, quando o marido da ministra já era prefeito.

Em nota, a ministra reafirmou que “não compactua com qualquer ato ilícito e cabe à Justiça o papel de julgar quem comete possíveis crimes”. Ela disse que, durante a campanha de 2018, “recebeu o apoio de milhares de eleitores em diversos municípios do Estado”.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse ontem que o fato de haver uma imagem “não significa ter ligação com as atividades eventualmente ilegais dessas mesmas pessoas”. Ele sugeriu que a ministra deveria prestar esclarecimento. Segundo ele, hoje em dia políticos tiram fotos com todo mundo.

Ao assumir o ministério, Dino prometeu que a Polícia Federal vai investigar quem mandou matar a ex-vereadora no Rio Marielle Franco (PSOL). Ela foi executada a tiros em 2018, e policiais militares acusados de participação com outro grupo miliciano foram presos pelo crime. A irmã dela, Anielle Franco, é a nova ministra da Igualdade Racial.

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A ministra Daniela do Waguinho foi sacada de última hora para compor o governo Lula. Não havia conversado antes com o presidente e soube que seria ministra na madrugada anterior ao anúncio. O nome dela foi uma indicação que passou pelo presidente da legenda, Luciano Bivar (União-PE), depois do impasse e do veto do PT ao líder da legenda, o deputado Elmar Nascimento (BA). Ele fez oposição a Lula e ao PT e é ligado ao presidente da Câmara Arthur Lira (Progressistas-AL).

Daniela do Waguinho não era a primeira opção do governo para a pasta. Outro cotado, o deputado Pedro Paulo (PSD), também foi vetado no governo por petistas por causa de uma acusação de ter agredido uma ex-mulher. O caso, no entanto, foi arquivado no Supremo Tribunal Federal. Ambos políticos são do Rio de Janeiro.

No cargo, ela teve que aceitar a indicação do deputado Marcelo Freixo (RJ) para a presidência da Embratur. Ele deixou o PSB e filiou-se ao PT após assumir o cargo. Ao anunciar a nomeação, a ministra disse que Freixo fora convidado por ela. Ele atuava no grupo temático de turismo do gabinete de transição e era um dos nomes que disputava a indicação para o ministério. O deputado projetou-se nacionalmente como presidente da CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio e vive sob escolta policial há anos por ter sido jurado de morte por milicianos. Jura consta como suspeito no relatório final. Antes de se eleger vereadora, Marielle Franco era assessora parlamentar de Freixo. “Sua execução é um ataque à democracia”, afirmou o deputado ontem.

Em um sinal de aproximação com o partido de Lula, a nova ministra se reuniu na segunda-feira, 2, com a bancada de deputados federais eleitos em 2022 pelo PT do Rio. Também estavam presentes o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, marido da ministra, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente do PT no Rio, João Maurício.

O novo presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que saiu do PSB e vai se filiar ao PT, também compareceu. Freixo tem sua carreira política marcada pelo combate às milícias no Rio. Apesar disso, aceitou trabalhar para a ministra do União Brasil e tem evitado fazer críticas a ela.

O ex-prefeito de Maricá e um dos vice-presidentes do PT, Washington Quaquá, amenizou a crise envolvendo a ministra. “O que há contra ela é uma foto com uma pessoa durante a campanha. Por que haveria de ter problema com a indicação?”, questionou. Perguntado pelo Estadão sobre o fato de o acusado de homicídio participar ativamente da campanha de Daniela para deputada, Quaquá respondeu: “Você não pede certidão para quem faz campanha ou tira foto”.

O petista ainda comparou o caso da ministra à demissão de Orlando Silva do Ministério do Esporte, em 2008. À época, Silva deixou o cargo após usar cartão corporativo para gastos pessoais. “Já passamos por um tempo em que comer uma tapioca derrubava ministro e deu no que deu”, disse Quaquá.

Colega de Daniela na bancada do União Brasil na Câmara, o deputado Celso Sabino (PA), presidente da Comissão Mista de Orçamento, também jogou água na fervura política. “Acho essa história incipiente. Não tem como condená-la por antecipação. Me parece algo frágil e direcionado especificamente para prejudicá-la, neste momento”, declarou Sabino.

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