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Labirintos da Política

Opinião | Bolsonaro sonha com posse de Trump, que se encontra é com Milei, que tem caneta e passaporte

Ex-presidente brasileiro não tem hoje condições nem mesmo de acompanhar no frio da rua o desfile presidencial do norte-americano em janeiro

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Foto do author Monica  Gugliano
Atualização:

Desde a vitória eleitoral do republicano Donald Trump, uma euforia desmedida tomou conta do clã Bolsonaro e aparentados. Já se falou que seria possível desde a troca de um simples aperto de mão, até a amalucada informação de que o americano convidaria o ex-presidente Jair Bolsonaro para participar da posse em Washington, no dia 20 de janeiro, ou em inglês, “Inauguration Day” – impossível por que não é uma solenidade que admite convidados estrangeiros. E ainda que o cerimonial permitisse, o ex-presidente está impedido de sair do país e inelegível até 2030.

Entretanto, antes dessa decepção por não poder acompanhar a posse “bem de pertinho”, Bolsonaro terá outra amargura bem maior, dessas de levar às lágrimas. Nestas quinta e sexta-feira, o presidente argentino Javier Milei será recebido por Trump, em sua mansão em Mar-a-Lago, onde será realizada a Conferência Política de Ação Conservadora (Cpac), na Flórida. E, mais, Milei será um dos oradores (o único da América Latina) a falar ao lado de Trump, do vice-presidente eleito, J.D. Vance e do provável secretário de Estado Americano, Ric Grenell.

Vai ser difícil para Bolsonaro repetir encontro com Trump, como sonha atualmente Foto: Alan Santos/PR - 24/9/2019

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Mas o golpe ainda poderá ser mais duro, segundo a imprensa internacional. O libertário Milei se reunirá separadamente com Elon Musk (SpaceX, Tesla e a rede social X) um encontro que vem sendo articulado pela irmã do presidente argentino, Karina, a quem ele chama de “El Jefe”.

Também de acordo com analistas internacionais, Milei tem se colocado diante de seus pares no continente como o interlocutor preferencial de Trump, tentando desbancar o vizinho. Mais um desgosto para o ex-presidente. E buscará reluzir essa suposta preferência na paradisíaca Mar-a-Lago, um dos pontos mais bonitos em Palm Beach, na Flórida, frequentado por muito ricos e muito famosos.

Porém, o que transparece das declarações e até dos gestos de muitos dos assessores, parentes e amigos de Bolsonaro, além do próprio, é que eles faltaram às aulas de política externa. Existe entre as nações aquilo que é chamado de “diplomacia presidencial”. Isto é, as relações entre países que são fortalecidas pelas afinidades entre os chefes de Estado e de Governo. Nos anos mais recentes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi um mestre nesse método de “encanto”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi outro. O petista chegou a ser chamado de “o cara” pelo americano Barack Obama e FHC foi recebido em Camp David (privilégio para poucos) pelo então presidente George W.Bush.

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Bolsonaro nunca se destacou nessa área (nem em muitas outras). Era completamente isolado pela comunidade internacional. Não estabeleceu uma relação amigável com seus pares. Por fim, a tresloucada maneira como conduzia a política externa lhe custou a inelegibilidade. Faltando pouco para as eleições de 2022, chamou um grupo de embaixadores e lhes fez uma apresentação para mostrar que o sistema eleitoral brasileiro (a urna eletrônica) não era seguro, portanto, a eleição (obviamente se ele perdesse) estaria fraudada.

Em meio a tantas confusões, com Donald Trump conseguiu estabelecer uma boa relação. Por posições ideologicamente semelhantes sobre costumes e preservação do meio ambiente, sendo contrários a energias limpas. Acabaram se aproximando. Tanto que Bolsonaro quis mandar o filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (o 03) para assumir o cargo de embaixador em Washington, o posto mais nobre e importante da carreira diplomática brasileira. Desistiu por que o Senado não aprovaria a indicação.

Bolsonaro e seu exército não perceberam que muitas coisas mudaram. Uma delas, por exemplo, é que a América Latina e o Brasil, em particular, não figuram – e já faz muito tempo que isso não acontece – na lista de prioridades dos Estados Unidos ou de Donald Trump. A outra, e mais triste para o ex-presidente, é que hoje ele não tem caneta alguma (talvez tenha sobrado uma Bic) e tampouco tem perspectiva de poder algum, pelo menos a curto prazo. Na vida pública, uma caneta com tinta e um cafezinho quente são tudo.

O que Bolsonaro achava importante, a eleição americana se encarregou de desmentir, mostrando que a questão econômica é central para os eleitores, para o governo Trump e certamente para os cidadãos do mundo inteiro. Se a amizade entre Trump e Bolsonaro resultar em bons negócios será perfeito e o amor crescerá como planta bem adubada. Isso caso o capitão reformado volte a ter uma boa caneta.

Por fim, um pequeno lembrete para quem se sentir à vontade para ir à posse. Se tiver passaporte e visto válido não terá problema para ficar na rua congelando ao frio de Washington, na Avenida Pensilvânia entre o Capitólio e a Casa Branca para assistir ao desfile presidencial. Há muitas festas também à noite, para as quais todos podem ser convidados. Mas não se esqueçam de levar os agasalhos. Muitos.

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Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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