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Labirintos da Política

Opinião|Cadeirada de Datena em Marçal não serviu a nenhum deles, de acordo com estudos feitos por campanhas

Tucano perdeu pontos por parecer “transtornado”, enquanto ex-coach foi ridicularizado por drama em ambulância a caminho do hospital

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Foto do author Monica  Gugliano

Há mais ou menos uns 10 dias, o candidato José Luiz Datena (PSDB) teve o seguinte diálogo com um dos mais experientes estudiosos de eleições, o cientista político e presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda. Ele disse ao tucano que embora estivesse recorrendo a uma expressão batida, era “pedra cantada” que um desses debates ia acabar em troca de sopapos. “Dito e feito”. A imaginação de Lavareda e provavelmente a de ninguém chegou a pensar que não haveria sopapos, mas, sim, cadeirada. Uma cena quase que como a dos filmes de faroeste, quando voavam cadeiras, garrafas e mesas arremessadas por mocinhos e bandidos, nos saloons.

José Luiz Datena e Pablo Marçal se envolveram em confusão em debate promovido pela TV Cultura Foto: Werther Santana/Estadão

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Considerando o tempo de campanha, nem demorou muito para que a pancadaria acontecesse. Afinal, Pablo Marçal (PRTB) tem se esforçado para aniquilar o sistema nervoso e o autocontrole dos adversários. “Marçal queria isso”. Talvez só não imaginasse que ia levar uma cadeirada. Realmente depois de debochar e xingar o candidato que ele chama de “Dápena”, o ex-coach lembrou de uma história em que Datena teria sido acusado de assédio sexual e, para encerrar, fez o que qualquer menino do curso fundamental costuma fazer: desafiou Datena a bater nele, “se fosse homem”. “Datena estaria desmoralizado se não reagisse”, ponderou Lavareda. Antes da desmoralização, o apresentador partiu para cima do ex-coach.

Mas será que alguém ganhou ou perdeu com todo esse espetáculo deprimente? As primeiras percepções indicam que não. Por mais que muitos tenham se compadecido de Datena, levado ao descontrole absoluto pelas acusações, afrontas e ataques de Marçal, o eleitorado não gostou de ver o apresentador transtornado, recorrendo à violência. Partidos que fizeram pesquisas qualitativas obtiveram respostas muito críticas a Datena.

Já Marçal morreu pelo exagero. Enquanto se manteve no papel da vítima – um dos seus favoritos – que apanhava, tudo parecia ir bem. Até que ele cometeu o pecado de se enfiar em uma ambulância, deitado em uma maca, com um respirador cobrindo o nariz e a boca, alegando que estava com uma das costelas quebradas e não conseguia respirar. Da fratura, a lesão passou para uma rachadura, fissura, por fim, o boletim médico falou em contusão, traumatismo no tórax e ficou por isso mesmo.

A cena foi desqualificada pelos eleitores que a transformaram em memes e em motivo de chacotas. Com tendência de queda nas últimas pesquisas de intenção de voto, Marçal que chegou a despontar como um candidato com chances de, pelo menos, chegar ao segundo turno, tem desinflado gradativamente suas perspectivas.

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Lavareda observa que todos os manuais de campanha eleitoral ensinam que o candidato, por exemplo, em segundo lugar deve mirar no primeiro. O terceiro mira no segundo, no primeiro. Mas que quando o segundo/terceiro (Marçal) lugar mira no quinto ((Datena), isso passa uma “péssima impressão” ao eleitorado, que não entende as razões de um candidato à frente dos demais buscar confusão com o segundo pelotão.

Este seria mais um dos problemas de Marçal, que perdeu sua principais redes sociais, percebe o bolsonarismo vendo que ele está em baixa se descolando dele, não tem um segundo no horário eleitoral gratuito – que atinge as classes D e E – e, fosse pouco, apareceu destratando um “velhinho” (que seria o candidato Datena, com 67 anos). As próximas pesquisas previstas para quarta, quinta e sexta desta semana, com mais um debate no meio (o da Rede TV e UOL, marcado para esta terça pela manhã) vão dar a dimensão exata do estrago para ambos. E, ainda, mostrar se terão alguma chance de se recuperar.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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