Com os olhos arregalados, a secretária da dentista me interpelou, mal eu tinha entrado no consultório, e perguntou: “você viu umas imagens de bebês mortos na água, no Rio Grande do Sul? E aquele pessoal todo que está lá, militares...tudo, como não resgataram? Não fazem nada?” Nem informação e nem a imagem são verdadeiras. Tentei explicar que em momentos como este é preciso tomar muito cuidado com o que se lê e se vê. Há muita informação falsa que só serve para assustar ainda mais a população. Então, se possível, é sempre bom conferir a notícia, antes de espalhar. Ela ouviu, fez que acreditou. Mas continuou me olhando desconfiada, certamente, preferindo acreditar nas suas redes sociais.
“A desinformação é o que mais tem prejudicado nosso trabalho. Ela impede a sinergia que é fundamental para as ações que são imprescindíveis neste momento nos órgãos governamentais”, explica à coluna o Comandante do Exército, Tomás Paiva. Em meio a essa montanha de informações inverídicas, o Exército Brasileiro é um dos órgãos envolvidos nos trabalhos no Rio Grande do Sul mais atingido. “Essa desinformação põe em xeque todo o trabalho realizado pela agências envolvidas, que são muitas, com milhares de pessoas trabalhando, criando descrença e confusão, em um momento que todos precisam trabalhar afinados”, acrescenta Paiva. Taquari 2, nome dado à Operação pelo Comando Conjunto Sul, já conta com mais de 20 mil militares, policiais e agentes, trabalhando nos mais de 400 municípios.
Sobre o Exército, mais do que desinformar, as fake news investem contra a imagem da instituição. Mal saída da crise do 8 de janeiro do ano passado, os oficiais e soldados da Força voltaram a ser tratados como melancias. A comparação faz referência às cores da fruta, verde por fora – a cor da farda - e vermelha por dentro – vermelho do comunismo. E é o que está acontecendo com os militares que se recusaram a apoiar a ideia de um golpe, propagada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns generais próximos a ele, e que, agora, estariam sofrendo o revide dos adversários.
“Constatamos um fluxo gigante de fake news”, diz Luis Fakhouri, diretor de Estratégia da Palver. O show de Madonna e a emergência climática no Rio Grande do Sul foram os dois destaques usados politicamente para atacar adversários e o termo “farsa armada” foi ganhando relevância à medida que os dias passavam e a situação no Estado se agravava.
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Fakhouri explica que uma das estratégias mais usadas para que as mensagens adquiram relevância digital é associá-las aos assuntos que estão em destaque na imprensa profissional. Guerra, tragédias humanitárias e episódios semelhantes são alguns dos fatos mais usados com essa finalidade. A população se envolve emocionalmente e não perde uma única notícia sobre os episódios, em meio a fatos reais, tendem a prevalecer conteúdos falsos que chegam aos borbotões por meio dos grupos de WhatsApp e Telegram.
A Palver constatou, no monitoramento que vem fazendo no Rio Grande do Sul, um esforço para tirar credibilidade do governo federal com ataques frequente aos veículos da imprensa tradicional. Da mesma forma, pesquisas têm mostrado a tentativa de desinformar sobre o trabalho que vem sendo feito pelos órgãos governamentais e as Forças Armadas de resgate, entrega de doações e todo tipo de auxílio possível à população gaúcha.
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