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Labirintos da Política

Opinião | General Heleno acha que inquérito da Polícia Federal sobre o 8/1 “vai acabar não dando em nada”

Enquanto ex-chefe do GSI se mantém em silêncio, aliados nas Forças Armadas têm movido mundos e fundos para que ele não passe pelo constrangimento de ser acusado pela tentativa de golpe

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Foto do author Monica  Gugliano

“Isso vai acabar não dando em nada.” Praticamente confinado em seu apartamento em Brasília, a não ser pelas saídas para ir aos advogados, ao supermercado e à casa onde mora a filha no Lago Sul, o general de Exército reformado Augusto Heleno Ribeiro Pereira tem dito essa frase nas conversas com pessoas próximas, referindo-se ao andamento das investigações da Polícia Federal no inquérito que apura a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023.

Desde que encerrou seu mandato à frente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), junto com o fim do governo de Jair Bolsonaro, Heleno tem se mantido praticamente recluso. O general também tem dito a terceiros que, quanto mais quieto ficar, maiores serão suas chances de escapar ileso da sindicância das tramas, reuniões e articulações com a ala mais dura do Exército que não se conformava com a vitória eleitoral do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Loquaz, animado e sempre com alguma informação para dar, Heleno tornou-se ensimesmado. Não fala com jornalistas, mudou o telefone.

O general Augusto Heleno durante depoimento à CPMI do 8 de Janeiro, em setembro do ano passado Foto: Wilton Júnior/Estadão

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O silêncio, acredita ele, é a melhor arma para preservá-lo do indiciamento na Polícia Federal. É verdade que ele não tem contado apenas com o silêncio para se preservar. Aliados nas Forças Armadas têm movido mundos e fundos para que ele não passe pelo constrangimento de ser acusado pela tentativa de golpe. O lobby vai dos tribunais ao Congresso.

Diferentemente de seus colegas em posições semelhantes, Heleno foi um ídolo de gerações de militares, por sua postura e seu escasso comedimento em retrucar autoridades, mesmo que a autoridade seja o presidente da República, o que lhe custou o comando da Amazônia no segundo mandato de Lula. É um tríplice coroado (honraria concedida aos alunos aprovados em primeiro lugar nas três principais escolas militares de formação do Exército).

Mas é verdade também que Heleno sempre foi um dos cabeças da conspiração que pretendia desconsiderar a eleição do presidente Lula, mantendo Bolsonaro no poder por meios ilegais e ilegítimos. E, se havia alguém que sabia o que se passava e os planos do clã Bolsonaro, esse alguém era Heleno. Na prática, o general desde que assumiu a função não desgrudou um segundo do chefe.

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Talvez tenha sido essa convivência com as práticas de Bolsonaro que, pouco a pouco, fez com que elas fossem sendo incorporadas pelo general que chegara ao palácio para ser um dos moderadores do alucinado presidente e acabou estimulando as medidas mais duras contra os Poderes Constitucionais. Nâo haviam se passado nem oito meses do governo Bolsonaro e Heleno já ameaçava com uma invasão ao Supremo Tribunal Federal.

Ao final do governo, Heleno estava convencido de que eram necessárias ações duras para conter o “comunismo” representado por Lula. Passou a ter reuniões constantes com o candidato a vice-presidente na chapa bolsonarista, Walter Braga Netto, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos.

Agora, falta pouco para testar a veracidade da frase de Heleno de que “o inquérito não vai dar em nada”. Ele está na fase final e, passadas as eleições, oficiais das Forças Armadas estão extremamente apreensivos com a situação dos ex-comandantes. Esperava-se por uma anistia. Mas ela está cada vez mais distante e mais difícil. O esforço e as articulações passam a se dar, agora, no Congresso Nacional, em que se debaterá a possibilidade de um perdão. O mais ativo, obviamente, é o ex-presidente Bolsonaro, que conta com isso para concorrer em 2026.

Mas o pepino e a maior preocupação estão no colo do comandante do Exército, general Tomás Paiva. Ele, como manda a lei, aceitará qualquer decisão judicial. Mas a questão não é tão simples. Por mais esforços que ele tenha feito e venha fazendo no sentido de acalmar os quartéis e de eliminar a política da caserna, sabe-se que o caso dos comandantes tem tudo para virar uma confusão. Já antecipando uma posição, o ministro da Defesa, José Múcio, disse há poucos dias que quer que o caso saia do CNPJ das Armas e vá para o CPF dos envolvidos.

Uma ajuda e tanto para o que o general Tomás mais defende: tirar o Exército dessa confusão e voltar à vida das atividades normais e constitucionais da Força.

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Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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