Imagine o seguinte: encontro um grupo que não me conhece e quero me apresentar. O que faço? Aperto a mão do pessoal, tento ser gentil, digo algo agradável? Não. Arrumo apelidos pejorativos para cada um deles, xingo e insulto a família de todos, ponho em dúvida a honestidade de cada um, digo que não passam de mentirosos e, sem prova alguma, que são delinquentes e usam drogas ilícitas. Por que faço isso? Por que quero que me conheçam e saibam que sou uma pessoa legal.
No primeiro debate sem cadeirada ou insultos entre os que já aconteceram, foi essa a explicação dada pelo candidato Pablo Marçal (PRTB), o encrenqueiro mor dos picadeiros, para justificar sua drástica mudança de comportamento. Mas será mesmo que ele subitamente se tornou gentil por que já se tornou conhecido? “Foram as pesquisas, estúpido”, parafraseando a frase cunhada em 1992 por James Carville, originalmente “É a economia, estúpido”, que o então estrategista da campanha presidencial de Bill Clinton contra George H. W. Bush, presidente dos Estados Unidos usou para mostrar o que mais preocupava os eleitores.
Em um mês de campanha, Marçal surgido como a grande novidade desta eleição municipal, o ex-coach, influencer, com domínio absoluto das redes sociais, dizia que adotava o comportamento de um “idiota” para se tornar conhecido. O candidato que estava dividindo o patrimônio da direita brasileira com o ex-presidente Jair Bolsonaro, até agora dono e senhor dessa turma. Marçal, o milionário, que ameaçava se tornar o grande herdeiro do bolsonarismo, iniciou um processo de derretimento tal qual um picolé ao sol.
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No último Datafolha, divulgado nesta quinta-feira, 19, taxa de rejeição do candidato bateu nos 47%. Não precisa ser marqueteiro ou grande especialista para saber que ninguém se elege a um cargo majoritário sendo rejeitado dessa forma. Entre as mulheres, 53% do eleitorado da cidade, Marçal tem 12% da preferência entre elas. Além disso, segundo a mesma pesquisa, ele estagnou em 19% e saiu do primeiro pelotão entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB, com 27% e Guilherme Boulos (PSOL), com 26%.
Ainda que tarde Marçal tente dar uma brusca virada na campanha, falta-lhe musculatura, repertório. Não tem o que dizer, além de falar no mirabolante prédio com mais de um quilômetro de altura ou do teleférico que não se sabe para onde iria. O mais provável é que vá do nada para o lugar algum.
Entretanto, não parece que será fácil para ele. Depois de segurar o debate inteiro em um tom mais ou menos amigável, no final, não resistiu e apelou para o tom bélico de sempre. Voltou ao picadeiro. Ele ainda não se deu conta de que a população da cidade busca um prefeito, não um idiota.
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