O governador do Pará, Helder Barbalho, viajou para a COP-28, em Dubai, levando na mala uma boa notícia. Mas também a sacola de preocupações de quem vai sediar em Belém a COP30, dentro de dois anos. Em julho, o desmatamento no Estado foi reduzido em 53%. Isso equivale a 269 km² de área preservada em relação ao mesmo período do ano anterior, e significa uma diminuição de quase 40% (uma área de 592 km2) em todo o território.
“É o nosso legado ambiental. Como transformar a floresta viva em um valor maior do que a floresta morta”, disse Barbalho em uma rápida conversa com a coluna, após participar do CNN Talks. O problema não é apenas resolver essa equação. Mas solucioná-la conciliando a sustentabilidade ambiental com a social e econômica. “Tenho floresta, mas tenho também nove milhões de brasileiros no Estado e 29 milhões na Amazônia que precisam de trabalho, educação, saúde”, observou.
É motivo para comemorar. Mas ainda falta fazer bastante da lição de casa. O legado ambiental e econômico precisa andar, como diz o próprio governador, dentro dos princípios ESG – ambiental, social e governança. Tem a descarbonização da economia que deve estar inserida no combate à pobreza e a desigualdade.
O Pará já chegou a ser o líder absoluto no desmatamento e o maior emissor de gases de efeito estufa. Agora, Barbalho vai apresentar em Dubai um plano de restauro das florestas que prevê, até 2035, a reparação de 5,7 milhões de hectares que foram perdidos e que será um dos principais vieses para o mercado de carbono. Também vai mostrar um plano de rastreabilidade bovina que, até, 2026, vai universalizar todo o rebanho do Estado. “As expectativas em Dubai são enormes de que haja uma forte iniciativa dos líderes, principalmente a respeito do aquecimento global”, disse o governador.
Em agosto, Barbalho já passou pelo teste de sediar a Cúpula da Amazônia, um evento que reuniu presidentes e ministros de Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Mas a chamada “Declaração de Belém”, na opinião de especialistas, não trouxe avanços significativos, principalmente, ao deixar de atender metas comuns de desmatamento e por não vetar a exploração de petróleo.
Os debates foram um teste para a COP-28 e, principalmente no que diz respeito à infraestrutura, aos projetos que precisarão ser desenvolvidos até 2025. “Os desafios para nossa cidade serão imensos”. Belém é uma cidade com 1,3 milhão de habitantes, segundo o último Censo. Estima-se que 70 mil pessoas entre delegações estrangeiras, chefes de Estado, ativistas, empresários etc. compareçam. “Temos desafios de mobilidade urbana, transportes, saneamento, sem falar na rede hoteleira”, disse Barbalho.
A cidade conta, atualmente, com 12.115 leitos de hotel em todas as categorias. Segundo o governador a estimativa é de que seja preciso quadruplicar essa capacidade. Barbalho criou uma comissão que já está estudando experiências de outros grandes eventos que foram realizados em um passado próximo, como a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos e a Jornada Mundial da Juventude. “Nesse sentido esta viagem a Dubai também servirá para que conheçamos modelos e exemplos dessa organização”, disse o governador, acrescentando: “Agora, é claro que quem vier a Belém, pensando em hotéis seis, sete estrelas, como há em Dubai, vai se decepcionar. Mas quem viera para conhecer a floresta, pode estar certo de que vai conseguir”.
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