As investigações do Exército até agora já sinalizam para a hipótese de que foi um militar ou um grupo de militares de dentro do quartel que arquitetou o roubo de 21 metralhadoras. Por isso que a Força mantém o aquartelamento e não deixará ninguém sair enquanto todas as investigações e possibilidades não forem esclarecidas. Oficiais disseram à coluna que a decisão de impedir a saída dos aproximadamente 480 militares – que estão incomunicáveis, sem celular e sem poder receber qualquer visita - foi tomada também para evitar qualquer tentativa de destruição de provas e eles acreditam que está próximo o esclarecimento de como aconteceu o roubo.
Não é a primeira vez que armas são furtadas de instalações militares. O que deixou os oficiais que falaram com a coluna estupefatos foi a quantidade e a dimensão das metralhadoras. “Ninguém entra em um quartel e sai com uma .50 embaixo do braço”, comentou um desses oficiais. De acordo com a descrição das Forças Armadas, a .50 pesa 38,1 quilos, sem contar outros 20 quilos do tripé que acomoda o armamento no solo. Tem 1,75 metro de comprimento e pode atingir um alvo a mais de um quilômetro de distância. As dimensões fazem com que a arma não seja portátil.
O roubo aconteceu no Arsenal de Guerra de São Paulo que fica em Barueri, uma unidade que faz toda a manutenção de equipamentos militares, projetos de engenharia e reposição de peças. As armas estavam lá para manutenção e são 13 metralhadoras de calibre .50 (antiaéreas) e oito de calibre 7,62. As armas, segundo a Força, estavam “inservíveis”—ou seja, sem utilidade no momento — e em fase de reparos.
Ao saber do desaparecimento o comandante do Exército, Tomás Paiva, determinou que fossem acionados todos os mecanismos possíveis para descobrir os autores do crime. Neste caso, o próprio Exército atua como Polícia Judiciária Militar, autorizada pelo juiz militar, e conduz o inquérito. Tão logo sejam descobertos os autores do roubo, o Exército prepara uma operação para recuperar o armamento. “Tudo será encontrado e recuperado”, afirmou esse oficial.
A Força terá que dar uma resposta no menor tempo possível, principalmente, num momento em que o Ministério da Justiça tem reforçado ações no combate ao crime organizado na Bahia e sobretudo no Rio de Janeiro. A operação está sendo conduzida pelo secretário executivo da Pasta, Ricardo Capelli, e vai concentrar os esforços da Polícia Federal e da Força Nacional na fiscalização de rodovias, portos e aeroportos para coibir justamente o tráfico de armas.
No Exército é dado como certo que as metralhadoras podem parar nas mãos de integrantes do narcotráfico e milicianos. Muitos militares vivem em comunidades e não é impossível que algum deles tenha sido ameaçado por membros do crime organizado e instado a praticar o roubo.
Mas o principal receio é com as características das armas, capazes de derrubar um helicóptero. No Rio, há uma semana em uma incursão da polícia nas comunidades da Maré, Vila Cruzeiro e Cidade de Deus dois helicópteros foram atingidos por disparos vindos das quadrilhas dos criminosos que disputam o domínio da região. A ação tinha como objetivo prender membros do Comando Vermelho (CV) em resposta a execução de três médicos em um quiosque na Barra da Tijuca.
Os médicos, que participavam de um Congresso em um hotel de luxo em frente à praia, haviam atravessado a rua quando três indivíduos desceram de um carro e dispararam mais de 30 tiros contra eles. Três morreram na hora, na calçada. Um quarto médico que estava com eles, sobreviveu. Ao que tudo indica até agora, morreram por engano. Um deles seria parecido com um miliciano. Os executores equivocados, ao que parece, foram encontrados mortos horas depois. Eles teriam sido julgados pela própria organização criminosa que fez uma reunião por videoconferência de dentro de uma penitenciária entre presos e comparsas que estavam do lado de fora.
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