Enquanto no Supremo Tribunal Federal (STF), Polícia Federal (PF) e Procuradoria Geral da República (PGR) o alvoroço só parecia aumentar, no Palácio do Planalto o clima era de calmaria. A sensação também se estendia ao Ministério da Justiça, a quem está está subordinada a PF. Talvez tanta tranquilidade só fosse aparente. Mas a ordem foi dada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer o governo afastado das acusações de golpe. Não quer confusão com os militares, afinal, o inquérito revelou que eles são maioria entre os 37 envolvidos num documento com mais de 800 páginas, concluídas nesta quinta-feira pela PF e enviadas ao Judiciário.
A única opinião sobre o tema foi dada pelo próprio Lula, referindo-se ao fato de que os golpistas pretendiam envenenar a ele e também ao vice-presidente. “Sou um cara que tem que agradecer muito mais porque estou vivo. A tentativa de envenenar eu e o (Geraldo) Alckmin não deu certo. Estamos vivos aqui”, disse o presidente.
A ideia do governo é isolar o tema, primeiro para não parecer que considera as Forças Armadas envolvidas numa tentativa de golpe, deixando o problema restrito aos 37 envolvidos (em um total de mais de 200 mil homens). Segundo por que vive-se um momento bastante delicado, em que o Ministério da Fazenda terá que fazer cortes financeiros nas Forças, assim como está fazendo em outras pastas na Esplanda para poder fechar as contas.
Não é possível dizer que o documento divulgado pela PF trouxe grandes surpresas. A maior parte dos nomes já circulava em Brasília. Mas agrava a situação de generais que eram considerados grandes lideranças no Exército e mesmo do almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha. Ainda que exista um longo caminho pela frente até as sentenças serem proferidas, a vida desses senhores, como Braga Netto, Augusto Heleno e outros, já está em ritmo de confinamento. Isso não inclui Bolsonaro que continua andando de um lado para o outro e só não pode deixar o País.
Embora todos os 37 estejam numa situação extremamente delicada, provavelmente o ex-presidente perderá muito mais que os demais. Na realidade paralela em que vive, Bolsonaro acreditava que haveria alguma chance de conseguir uma anistia para a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Em seus mais doces sonhos, imaginava que teria condições de ser o líder da extrema direita, comandando seu Exército rumo às eleições de 2026. Quem conhece um pouco sabe que na política brasileira, onde menos se espera, aparece uma jabuticaba. Desta vez será preciso um jabuticabão para desencalacrar um político inelegível até 2030 e, agora, indiciado pela Polícia Federal.
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