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Labirintos da Política

Opinião|Nunes rejeitou sugestão de Bolsonaro ao faltar a debate; Tarcísio apoiou prefeito; veja bastidores

Boulos decidiu logo que não iria ao evento; efeito Marçal desestabiliza opositores que não sabem como lidar com o livre-atirador

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Foto do author Monica  Gugliano
Atualização:

Eram 7 horas da manhã desta segunda-feira, 19, quando um assessor do prefeito Ricardo Nunes (MDB) telefonou para os coordenadores do debate da revista Veja - que aconteceria quatro horas depois - informando que Nunes não participaria. Depois de confirmar a presença em um documento assinado pelo staff da campanha, prevaleceu a opinião da ala do marqueteiro Duda Lima em detrimento das recomendações do ex-presidente Jair Bolsonaro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas apoiou a decisão do prefeito. Bolsonaro, porém, segundo um aliado, argumentava que seria melhor correr o risco de ouvir mais ataques do candidato Pablo Marçal (PRTB) do que deixar o púlpito vazio, como aconteceu. Mas o prefeito preferiu não arriscar. À coluna, ele disse que foi convencido pela coordenação de sua campanha a não comparecer. Tanto ele quanto coordenadores de sua campanha afirmam que Bolsonaro não falou com eles.

A ausência de Guilherme Boulos (PSOL) já era praticamente dada como certa. Durante a semana, a equipe dele e ele mesmo falaram que os debates não estavam sendo construtivos. E desde sexta-feira não atendiam as ligações dos organizadores do evento. José Luiz Datena (PSDB), por sua vez, tem dito que não se sente confortável com seu desempenho e preferiu ficar de fora.

Ricardo Nunes se ausentou do debate da Veja, assim como Guilherme Boulos e José Luiz Datena Foto: Felipe Rau/Estadão

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A ideia dos candidatos de não irem ao evento começou a germinar logo depois do debate do Estadão, em parceria com o portal Terra e a Faap. Marçal provocou tanto os adversários em busca dos recortes que turbinam sua campanha nas redes sociais - onde ele até agora reina absoluto - que Boulos, Nunes e Datena passaram a considerar se era, realmente, produtivo para suas campanhas esses confrontos com Marçal.

Nesse dia, depois de ser provocado até a exaustão, Boulos perdeu o autocontrole e tentou arrancar das mãos de Marçal a carteira de trabalho que o influenciador sacudia à sua frente para reforçar a crítica de que o deputado não trabalha. Além disso, Marçal costuma afirmar, sem provas, que Boulos é usuário de cocaína e o chama de “aspirador de pó”. Refere-se a Datena como “Dá pena”, e a Nunes como “Zé Bonitinho” personagem do programa A Praça é Nossa, exibido há mais de duas décadas no SBT.

Sabe-se que Nunes ficou reunido até a meia noite de ontem com sua equipe de campanha para tomar a decisão final. Os demais já estavam determinados a, como dizem, “não dar escada” - termo usado no teatro - para Marçal. Os marqueteiros das campanhas não reconhecem que a entrada de Marçal na campanha desestabilizou os candidatos e está obrigando a que sejam revistas as estratégias. Mas apontam que Marçal, segundo eles, “mente muito e cria uma realidade paralela independentemente do que aconteça”.

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De fato, seja qual for a pergunta ou o tema, Marçal não responde nada com nada. Ontem, por exemplo, ele informou que seu programa de governo tem 28 itens, mas praticamente não falou sobre eles. Sempre que Tabata Amaral (PSB) ou Marina Helena (Novo) lhe perguntavam o que pretendia fazer com a educação, saúde etc ele argumentava que a resposta estaria em seu Instagram. E vai entremeando essas afirmações com insultos ou palavras que desqualificam os opositores.

Quando fala sobre Boulos, ele sempre inclui o adjetivo “vagabundo”, Tabata seria muito estudiosa, mas isso seria possível por que “não tem marido”. E faz parceria com Marina Helena, que apesar dos elogios que recebe, foi perdendo o foco e acabou contando que havia sido violentada na adolescência, como se esse triste episódio de sua vida fosse um requisito para administrar a maior cidade do País.

Nesse cenário, de vale tudo, o nível vai baixando e os insultos crescendo. Tabata, em determinado momento, disse que muitos dos assessores de Marçal vinham do governo de João Dória e a semelhança era tanta que usavam “até calça apertadinha”. O comentário costumava ser feito pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). E assim vão passando os minutos e o tempo que deveria ser gasto para dizer aos eleitores como vão resolver os problemas de uma cidade tão complexa, se perde nas chacotas e palavrões. Realmente, não será fácil a decisão dos marqueteiros e dos candidatos que, em suma, terão que escolher se evitam Marçal ou partem para o confronto.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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