A Organização das Nações Unidas (ONU) viveu nesta sexta-feira, 27, o paradoxo dos paradoxos. Criada em 21 de setembro 1945, quando seus 51 membros fundadores – entre eles o Brasil - ratificaram, a Carta da organização e seus objetivos que incluiam a garantia da paz, a cooperação internacional e o estabelecimento de relações amistosas entre as nações, a entidade ainda não tinha visto em tempos recentes, um líder ocupar a tribuna para discursar, enquanto seu país bombardeava áreas altamente povoadas por civis inocentes em países vizinhos.
Não é para menos que ao chegar ao plenário, o premier israelense, Benjamim Netanyahu, pregando o direito de seu país de acabar com a ameaça representada pelo grupo xiita libanês Hezbollah, bombardeando prédios residenciais na região sul de Beirute, encontrasse parte do local vazio. Ao chegar para o discurso, pelo menos 12 delegações árabes se retiraram do local. A estratégia da diplomacia brasileira orientou a delegação a se ausentar antes da chegada de Netanyahu e voltar somente após sua saída. Pesou não somente o gesto dos israelenses de não aplaudir o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, como manda a tradição, abriu a 79º Assembleia Geral.
Mas também o conceito de que, embora o Brasil reconheça os ataques terroristas, considera Netanyahu responsável por uma ação injustificada e desproporcional de violência que tem causado a morte de milhares de cidadãos inocentes. Lula deixou muito claro isso em seu discurso, na manhã de terça-feira. Citou o “genocídio” em Gaza, condenou os ataques ao Líbano e elogiou a delegação da Palestina, de Mahmoud Abbas.
Netanhayu discursou igual, alegando que o quartel-general da organização bombardeada estava instalado abaixo das construções, onde, segundo fontes diplomáticas, ele pretendia matar o líder máximo do movimento xiita, Hassan Hasrallah. Um discurso semelhante ao que ele vem usando desde o ataque terrorista do do Hamas, no dia 7 de outubro, onde sob a justitificativa de acabar com o grupo, já foram mortas mais de 45 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças.
A ONU, também de acordo com fontes diplomáticas, está profundamente alarmada com a escalada da violência na região. Ainda hoje, as forças armadas israelenses fizeram o maior ataque ao Líbano. O maior temor, entretanto, está numa possível entrada do Irã no conflito. Israel já ameaçou retaliar qualquer ataque lançado pelo Irã que, por sua vez, já prometeu punir o estado israelense e, segundo agências internacionais de notícias, distribuiu uma nota em sua embaixada em Beirute, dizendo que o ataque a Beirute que “representa uma séria escalada que vai mudar as regras do jogo”.
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