O Alto Comando do Exército não moveu um fio de cabelo ao ouvir a decisão que tornou réu o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete pessoas acusadas de integrar o núcleo central do plano de golpe. É claro que não se pode exagerar e imaginar que houve uma festa, fogos de artifício etc. Porém, com a máxima discrição possível, existiu uma sensação de alívio com o encerramento, pelo menos, desta primeira fase que pesava como uma bazuca na cabeça dos comandantes.
Não por que eles tivessem receio de que as revelações - também amplamente conhecidas - pudessem atravancar o trabalho que a Força vem fazendo, há bastante tempo, em busca de reparar a imagem e, principalmente, de separar os militares condenados que desempenhavam funções políticas. A nata dos que foram denunciados como réus pela Procuradoria Geral da República (PGR) estava no governo do ex-capitão Jair Messias Bolsonaro. E todos eles em cargos muito próximos e de muita confiança do presidente da República, além de despacharem praticamente contíguos ao gabinete do chefe da Nação.

Além de Bolsonaro, vão responder ao processo: Walter Braga Netto (ex-ministro da Defesa e Casa Civil), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-diretor da Abin), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha) e Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro).
Os oficiais não viam a hora de que fosse realizada esta primeira parte do processo. A avaliação era de que muitos estavam pagando pelos crimes de poucos. Afinal, para eles, maioria foi contra e se recusou a amparar as ambições golpistas de Bolsonaro e seus parceiros.
Os acusados se tornaram réus em um processo penal por cinco crimes: organização criminosa armada, golpe de estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático, deterioração de patrimônio tombado e dano qualificado contra o patrimônio da União. As penas em caso de condenação podem chegar a 43 anos de prisão.
Outra observação de membros do Alto Comando foi sobre o fato de a maioria deles ser oficiais graduados. Isso reforça o trabalho que vem sendo feito no Congresso pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Desde, 2021, Múcio vem se esforçando para pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 21/21 que proíbe os militares da ativa de ocuparem cargos de natureza civil na administração pública (União, estados, Distrito Federal e municípios). O dispositivo seria incluído no artigo 37 e considera que a Constituição não trata da presença de militares em cargos civis. A PEC de autoria da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) prevê que os militares da ativa não possam participar de atividades político-partidárias se tiverem menos de dez anos de carreira. E, se participarem, não poderão voltar à Força.
Embora, os sete - mais Bolsonaro - tenham ainda um longo caminho pela frente até o julgamento e a sentença final, o tenente-coronel Mauro Cid, o delator que forneceu a maioria dos caminhos para as investigações que se mostraram corretas, acabou com sua carreira. Na condição de réu, não pode ser promovido e nem ter outros benefícios.