Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a influência da polarização na eleição municipal em São Paulo, a pesquisa Datafolha se encarregou de dissipá-las. Embora ainda seja muito cedo e as pré-campanhas estejam apenas engatando, o empate técnico entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado Guilherme Boulos (PSOL) revela um eleitorado, por enquanto, dividido entre o candidato a reeleição apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e o seu hoje principal oponente, em quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está apostando seu prestígio.
Entretanto, a polarização confirmada e o empate técnico não são as únicas novidades da pesquisa. Enquanto para Nunes o levantamento trouxe boas notícias como, por exemplo, a melhora na avaliação de sua administração – um em cada três moradores da cidade considera o prefeito ótimo ou bom – para Boulos, os resultados foram um pouco decepcionantes. Sua equipe não contava com um empate técnico, embora atribuam o resultado ao “uso da máquina” do adversário.
Mas, apesar da fotografia que surgiu da pesquisa, neste momento ainda há muitas incógnitas. Uma delas é se o engajamento de Lula renderá tudo que se espera dele. O presidente viu seus índices de aprovação piorarem, segundo a pesquisa Genial/Quaest, divulgada na quarta-feira da semana passada. A desaprovação a atuação de Lula aumentou de 43% para 46%. A queda foi atribuída às declarações sobre Israel e também à percepção sobre a economia do País que, segundo os eleitores, piorou.
Além disso, Boulos, até agora, não conseguiu afastar a imagem de radical por causa de sua origem no Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) em segmentos que não sejam especificamente seu eleitorado. Isso, na pesquisa, se refletiu na rejeição ao candidato do PSOL. 34% dizem não votar nele de forma alguma. Já Nunes tem 26%.
O atual prefeito também tem o bônus e o ônus do apoio de Bolsonaro, envolvido em vários inquéritos pela suposta tentativa de golpe no 8 de janeiro. A depender do rumo das investigações que vêm sendo conduzidas pela Polícia Federal, se ele for indiciado, o prefeito dependerá da reação dos bolsonaristas que tanto podem sair às ruas para defendê-lo, como também podem transferir seus votos e aí poderia abrir-se um espaço para a candidata do PSB, Tabata Amaral que aparece na pesquisa com 8%.
Empatado tecnicamente com Boulos, Nunes deve investir pesado em atrair o apoio do que restar do PSDB. Há cerca de15 dias, Nunes, em conversa com o Estadão rejeitou a hipótese de o PSDB apoiar outra candidatura que não seja a dele. Principalmente por que em sua equipe – praticamente a mesma que ele herdou de Bruno Covas (1980-2021) – há vários tucanos. “Eles vão sair do governo e criticar o mesmo governo do qual participavam?” perguntou Nunes.
Com a disputa eleitoral nacionalizada, Nunes e Boulos vão disputar muito mais do que quem administrará a maior cidade da América Latina e a mais rica do Brasil. Quem vencer marcará posição para Bolsonaro ou Lula na eleição de 2026. Inelegível, Bolsonaro terá que escolher um herdeiro e aí desponta um nome que também apoia e vai trabalhar muito para reeleger o prefeito: o governador Tarcísio de Freitas.
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