Além de revelar que a campanha eleitoral de 2024 começa com um ano de antecedência na cidade e o favorito nas pesquisas, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), já é alvo dos oponentes, a greve que paralisou São Paulo nesta terça-feira, 3, também acendeu um sinal de alerta no PL. Para lideranças do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tem se aproximado do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e analisado a hipótese de apoiar a candidatura dele à reeleição, foi preocupante a “pálida” reação que ele teve diante da gravidade do movimento e das consequências para a população. “Nunes poderia ter surfado essa onda e partido para cima dos grevistas”, definiu uma dessas lideranças.
Na noite de terça, milhares de cidadãos se amontoavam e espremiam nos pontos dos ônibus ou se dispunham a pagar valores exorbitantes por veículos de aplicativos na tentativa de conseguirem voltar para casa. Pela manhã, o pico dos congestionamentos atingira 600 quilômetros da maior cidade da América do Sul. Pelas ruas, centenas caminharam até os respectivos locais de trabalho e reclamaram que a greve estava sacrificando a população.
A paralisação, contra a privatização dos meios de transporte e da Sabesp, promessa de campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), teoricamente, não teria nada a ver com Boulos. Mas o fato de a presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, filiada ao PSOL, ter sido uma das líderes, serviu de pano de fundo da campanha eleitoral antecipada. No fim do dia, o próprio partido assumiu o movimento.
Procurado pelo Estadão, o diretor estadual da sigla João Zafalão disse que a legenda não apenas apoiava a greve, como também tinha orgulho em ter Camila entre os seus filiados. “É lamentável que o governador queira fugir de sua responsabilidade ao atribuir aos outros um problema gerado por ele mesmo e ao tentar partidarizar o debate. Pior ainda é ver um prefeito que abandonou a cidade querer fazer disso (a paralisação) palanque eleitoral”, declarou o deputado. O PT, também defendeu o movimento: “O governador de São Paulo quer fugir de suas responsabilidades e de ser um homem que não dialoga”, criticou o deputado Jilmar Tatto (PT-SP).
Nunes, aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), até ensaiou um discurso dizendo que era uma “greve ideológica”. Mas, na opinião dos integrantes do PL, ele deveria ter ido muito além e mostrado com mais clareza que a paralisação, que tanto transtorno trouxe aos cidadãos, não tinha demandas trabalhistas, salariais e que seriam facilmente aceitas pelos moradores da cidade.
Na prática, realmente, Nunes se escorou em Freitas. Talvez pelo fato de a greve ter como razão promessas de campanha do governador que, pode justificar o prefeito, não lhe dizem respeito. Entretanto, se pretende contar com o apoio do partido de Bolsonaro, ele terá que começar a ser mais enfático, uma qualidade que ainda não demonstrou em suas ações e discursos, aos quais faltaria paixão e energia.
Foi Freitas quem hoje “colou” no PSOL a pecha de não dialogar e partir para o confronto, mesmo que, para isso, tivesse que prejudicar os moradores da cidade. Durante o dia inteiro, o governador se virou em três dando entrevistas, e suas redes sociais acusaram o movimento de partidário e ideológico.
É possível, quem sabe, que não seja a falta de ação. Mas, o tom pouco emocional e monocórdio de Nunes que mais preocupe o PL. Ainda assim, ele continua sendo o candidato dos bolsonaristas, principalmente, por que a direita sabe que não vai vencer a eleição para o maior colégio eleitoral do País sozinha e não pretende embarcar em aventuras com candidatos inviáveis.
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O PL precisa de aliados e, por enquanto, não há nome melhor do que o dele. Mas os concorrentes estão à espreita e é bom ele tomar cuidado. Não por acaso, o deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente que entrou para a história como um dos maiores patrocinadores do desmatamento na Amazônia, ontem mesmo já avisou em suas redes sociais: “estou de volta ao jogo”.
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