Na sexta-feira passada, 6, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no seminário do PT em Brasília, tocou num assunto que virou uma fonte de críticas e intrigas na Esplanada dos Ministérios. “Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”, afirmou Lula em sua participação por videoconferência. Menos de uma semana depois, ele teve em sua própria internação um case para mostrar.
Lula foi trazido para o Hospital Sírio Libanês em São Paulo para drenagem de um hematoma de três centímetros, causado por uma hemorragia intracraniana. O diagnóstico foi feito ainda no Sírio em Brasília e a decisão de fazer o procedimento em São Paulo tomada pela equipe médica que o atende, comandada pelo cardiologista Roberto Kalil Filho. O presidente, acompanhado pela primeira-dama Janja e uma médica, viajou às 22h30min.
No início da madrugada já estava na mesa cirúrgica, mas o Planalto só informou que o chefe da Nação havia sido submetido ao procedimento pelas redes sociais às 5h30min. O boletim médico do hospital saiu às 3h20min, mas fora tomada a decisão de aguardar mais informações dos cirurgiões que o operaram, o que só aconteceu no meio da manhã, quando foi organizada uma entrevista coletiva no hospital.
Até aí a ação correu bem. Desse momento em diante, porém, o que se viu foram diversos exageros nas comunicações, tentando neutralizar qualquer possibilidade de um cenário negativo que contaminasse de alguma forma a delicadeza do procedimento.
Pouco antes do início da entrevista coletiva, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta, - que vem sendo apontado como o algoz da comunicação errática do governo - afirmou em live postada nas redes sociais que a cirurgia de Lula “havia transcorrido de forma absolutamente normal dentro do planejado”.
Ainda na entrevista, os médicos afirmaram que o presidente não terá sequelas, que estava se alimentando e conversando normalmente. O tom positivo foi escalando e, estimulado pelos jornalistas – a maioria insistindo nas mesmas perguntas – chegou um momento em que parecia que, a qualquer instante, algum dos médicos diria que Lula havia até dançado com Janja de tão bem que tudo que havia corrido.
Kalil, embora as regras constitucionais não façam parte do escopo das atividades previstas para um chefe de equipe médica, também afirmou à colunista Bela Megale de O Globo, que não haverá necessidade de o presidente se “licenciar do cargo nos próximos dias”. O ministro Paulo Pimenta, mais tarde, em entrevista à Rádio Gaúcha, diria o mesmo. O vice, Geraldo Alckmin, assumirá parte das agendas marcadas, de acordo com a necessidade. Segundo o médico, se a recuperação do presidente continuar como está, na próxima semana ele poderá voltar a Brasília.
O ministro Alexandre Padilha, médico, também manifestou sua confiança. Em uma rede social disse que havia passado a madrugada respondendo a questões sobre a cirurgia e em contato com os médicos. “Lula está muito bem”, afirmou dizendo que “o importante era o fato de o presidente não ter tido algum tipo de alteração de consciência” e acrescentou: “o presidente continua assinando e despachando”.
Apesar do esforço de Pimenta e da coletiva, informações desencontradas e múltiplos porta-vozes foram responsáveis por dados sem confirmação e avaliações sobre a saúde de Lula ao gosto do freguês.
Ouve-se dizer em Brasília que a mudança do titular da Secom acontecerá antes do restante das alterações que Lula pretenderia fazer em sua equipe. Quem conhece, sabe que trocas ministeriais rendem, antes e depois, semanas de fofocas e plantações de informações para o bem e para o mal. Essa (antecipar a mudança na comunicação) poderá, realmente, ser uma boa providência por que deixar o território sem planejamento e ordenamento - como está agora - poderá tumultuar o ambiente político de forma preocupante e dificultar ainda mais a vida de um governo que reclama não ver seus atos reconhecidos pela população.
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