Quando tudo parecia se encaminhar para um encerramento festivo da Conferência de Política Ação e Conservadora (CPAC Brasil) – organizada em Balneário Camboriú (SC), do outro lado do oceano, a extrema direita, favorita na eleição francesa, perdeu. Não foi um bom sinal para nossos direitistas locais, mas, pelo visto os eleitores parecem não ver com bons olhos os extremos. Isso porque, na França, a nova conjunção de forças, tampouco deu uma vitória à esquerda que precisou do centro de Emmanuel Macron para vencer.
A grande estrela da conferência, o presidente argentino, Javier Milei, recebido no sábado à noite como se Madona fosse, maneirou no discurso e se esquivou de fazer qualquer ataque ao Brasil ou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Bastaram a descortesia de não conversar com ele e vir ao País para se encontrar com seu principal opositor, Jair Bolsonaro (PL). Parece que já lhe são suficientes as confusões que arrumou com os Estados Unidos, Israel e Espanha. E, além disso, não existe possibilidade de diálogo entre os dois mandatários por que Lula já avisou que não falará com ele enquanto não receber um pedido de desculpas do vizinho que o chamou de corrupto e ladrão.
À vontade com Bolsonaro, Milei aderiu ao espírito pândego do ex-presidente e recebeu bem-humorado a medalha dos três “Is”, de imbrochável, imorrível e incomível. O ex-presidente costuma entregar “a preciosidade” como presente para seus aliados. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), recebeu a condecoração no mês passado.
O presidente argentino discursou a favor da liberdade de expressão que disse considerar um valor fundamental da democracia, mas que vem sendo “questionado pelas principais potências do mundo que consideram ser uma forma de censura”. Ele afirma que é cada vez mais frequente ouvir que, países onde se acreditava serem “respeitados os princípios básicos da democracia, acontecem aberrações em matéria de liberdade de expressão e censura”. Mas passou ao largo de críticas e outros gestos de falta de educação para com o País que visitava e o seu presidente. Limitou-se a atacar o socialismo e o comunismo, classificados por ele como os grandes males da humanidade.
Para participar do evento, Milei esnobou o Mercosul. Foi a primeira vez que um presidente argentino não compareceu à reunião. O mesmo comportamento já teve Bolsonaro que dois anos atrás não apareceu na cúpula.
Quem, ao final do encontro analisou os resultados no contexto da eleição francesa, como o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), considera que o resultado do pleito deixa duas mensagens importantes: um alerta e uma boa notícia. “O alerta é que os extremismos, tanto de esquerda quanto de direita, perderam. No caso da extrema direita que almejava assumir o comando da França, fica a lição para todas as direitas do mundo de que o extremismo não é o caminho. Se de um lado mobiliza, de outro provoca uma reação que une todos contra o radicalismo”.
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A boa notícia, prosseguiu Ciro, é que numa eleição de extremos, como ocorreu na França, segundo ele, ambos perderam e isso fortaleceu a importância do diálogo e das diferenças. “Os que ainda acreditam numa superioridade de ideias radicais perderam. E isso é muito bom. O Brasil não é e nunca será um país de extremistas”.
O recado, no momento em que a direita brasileira mais radical festejava seus dogmas em Camboriú, não poderia ser mais direto. Em meio a discursos alterados e a vitimização do ex-presidente Jair Bolsonaro, indiciado pela Polícia Federal pelos supostos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no caso das joias sauditas, o encontro – inspirado em uma conferência que ocorre desde a década de 70 nos Estados Unidos – estreitou a aliança do bolsonarismo com movimentos internacionais ligados à direita. Por enquanto, qual será o resultado disso, ninguém se arrisca dizer.
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