‘Moro não tem nenhuma restrição ao meu nome’, diz Beto Richa, que foi réu na Lava Jato

União Brasil e PSDB do Paraná tentam acordo, que pode colocar ex-juiz da operação e ex-governador no mesmo palanque

PUBLICIDADE

Por Ederson Hising
Atualização:

Um acordo costurado entre o União Brasil e o PSDB no Paraná poderá colocar no mesmo palanque o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil), pré-candidato ao Senado, e o ex-governador Beto Richa, pré-candidato a deputado federal, que foi em réu em processos que começaram após investigações autorizadas por Moro na Operação Lava Jato. Richa se tornou presidente estadual dos tucanos neste ano.

PUBLICIDADE

”Vou avaliar (o possível acordo). Moro manifestou para o nosso pré-candidato (ao governo, César Silvestri Filho) o desejo de formalizar e integrar aliança com o PSDB. Ele (Moro) demonstrou interesse em estar conosco e disse para o nosso candidato que não tem nenhuma restrição ao meu nome”, afirmou o ex-governador, ao Estadão. Segundo Richa, o ex-juiz explicou que vai conversar internamente no União Brasil sobre a aliança.

Na segunda-feira, 11, Moro almoçou com o pré-candidato ao governo pelos tucanos em Curitiba. Richa, que não foi convidado para a conversa, disse que não sabe se iria caso fosse chamado. “Não sei, duro avaliar hipóteses”, disse.

Na Lava Jato, o ex-juiz federal tornou Richa réu nas operações Integração 1 e 2, que apuraram indícios de corrupção em contratos das concessionárias de pedágio, e na Piloto, que investiga suspeitas de corrupção no contrato de duplicação da PR-323. Nesse processo, Richa ainda é réu por fraude a licitação, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas na Justiça Eleitoral. As ações penais da Integração foram arquivadas. Das três prisões do ex-governador, uma se deu após investigações iniciadas na Lava Jato quando Moro era o juiz das ações.

Ao anunciar a pré-candidatura ao Senado, na terça-feira, 12, o ex-juiz evitou responder diretamente sobre dividir o palanque com Richa. Questionado sobre a possível aliança, ele afirmou que nada está acertado. “Essa decisão será tomada pelo partido. Política é a arte do diálogo, estamos conversando com vários partidos”, disse. Nesta quarta-feira, 13, após a publicação deste texto, a assessoria de imprensa do ex-juiz enviou nota para dizer que “nega que tenha feito qualquer avaliação sobre Beto Richa no encontro mencionado”.

Publicidade

O União Brasil, que tem Luciano Bivar como candidato próprio à Presidência, não definiu quem irá apoiar para o governo do Estado do Paraná. A sigla ainda mantém aberto o diálogo com o governador Ratinho Júnior (PSD), candidato à reeleição, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL). Governistas tomam essa aproximação como inviável por não verem espaço para Moro atuar próximo a um aliado do presidente, com quem rompeu quando deixou o Ministério da Justiça.

O ex-governador Beto Richa; tucano é pré-candidato a deputado federal  Foto: Ricardo Almeida / ANPr

Neste cenário, o PSDB surge como alternativa para repetir o palanque montado pelos partidos em São Paulo. Silvestri Filho tem aparecido em terceiro lugar nas pesquisas, atrás de Roberto Requião (PT) e Ratinho Junior - disparado na corrida ao Palácio Iguaçu. O pré-candidato do PSDB foi prefeito de Guarapuava (PR) por dois mandatos. Como o ex-juiz, Silvestri deixou o Podemos este ano, após divergências com o senador Alvaro Dias sobre o lançamento de um nome próprio ao governo.

Nesta quarta-feira, 13, o ex-ministro vai até a cidade do centro-sul do Paraná se reunir com lideranças locais. A agenda dele foi construída com ajuda de Silvestri Filho, que trata o acordo entre PSDB e União Brasil como de interesse mútuo. Sobre ter Moro e Richa no mesmo palanque, ele afirma que situações como essa podem ocorrer na política.

”Ele (Moro) disse o seguinte: agora eu estou no universo da política, onde qualquer partido eventualmente pode ter figuras que em outro momento tenham tido questionamento na Justiça”, explicou Silvestri. “Não quer dizer que vão fazer campanha juntos, abraçados”, disse o pré-candidato tucano.

A busca do União Brasil pelo PSDB, assim como o interesse dos tucanos, mostra como o espaço na chapa de Ratinho está concorrido e difícil. O deputado federal Paulo Martins (PL), do partido de Bolsonaro, o deputado estadual Guto Silva (PP), ex-chefe da Casa Civil de Ratinho, e Alvaro Dias (Podemos) pleiteiam a vaga ao Senado ao lado do governador.

Publicidade

Encolhimento do PSDB no Paraná

Desde que voltou ao cenário político, Beto Richa tem dito que, além de recuperar a carreira, também quer reconstruir o PSDB no Paraná. Hoje, o partido tem três representantes na Assembleia Legislativa e um deputado federal licenciado, Valdir Rossoni, que entrou em abril de 2021 após a morte de José Carlos Schiavinato (PP), vítima da covid-19.

Em 2014, quando Beto Richa se reelegeu ao governo no primeiro turno, os tucanos fizeram sete cadeiras na Assembleia e três na Câmara dos Deputados. Agora, Ratinho Junior tem ampla base no Estado. No mês passado, inclusive, Ademar Traiano, presidente do Legislativo estadual, saiu do PSDB de Richa e foi para o PSD de Ratinho junto com outros quatro deputados de diferentes siglas e do prefeito de Curitiba, Rafael Greca. /COLABOROU GUSTAVO QUEIROZ

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.