Moro x Zanin: 5 embates entre ex-juiz da Lava Jato e indicado por Lula ao STF; veja vídeos

Nos próximos dias, opositores devem ficar frente a frente outra vez, durante sabatina que ex-advogado de petista enfrentará no Senado

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Foto do author Isabella Alonso Panho
Atualização:

Indicado por Luiz Inácio Lula da Silva para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado Cristiano Zanin Martins já protagonizou embates com o ex-juiz federal e hoje senador Sérgio Moro (União Brasil-PR). Os dois se enfrentaram publicamente quando Zanin defendeu o atual presidente na Operação Lava Jato, que levou o petista à prisão. A preferência do nome de Zanin e a data na qual a indicação seria feita foram antecipadas pelo Estadão.

O mérito da anulação das condenações de Lula é de Zanin, que o acompanhou nas todas as instâncias de julgamento. A qualidade do trabalho empreendido fez com que o advogado conquistasse o reconhecimento dos pares – embora, antes disso, ele já possuísse carreira sólida na advocacia, voltada para a área empresarial. Há especialistas, no entanto, que apontam a falta de titulações acadêmicas, premissa para que o requisito constitucional do “notável saber jurídico” seja atendido.

Moro e Zanin deverão se enfrentar novamente na sabatina do novo ministro no Senado  Foto: Wilton Junior/Estadão e Nacho Doce/Reuters

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Por outro lado, Moro deixou a toga e entrou para a política. Depois de um período como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), ele trabalhou na iniciativa privada e voltou neste ano para Brasília como senador da República. Em entrevista ao Estadão, Moro disse nesta sexta-feira, 2, que a indicação feita por Lula “revela uma proximidade que não é saudável”.

Os dois deverão se reencontrar nos próximos dias, porque o nome de Zanin precisa ser avalizado pelo Senado para que ele possa, de fato, ser nomeado como ministro. A indicação passa pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa – colegiado do qual Moro faz parte e onde o advogado será sabatinado – e depois vai ao plenário. Historicamente, o Senado não veta nomes apontados pelo presidente da República, o que não exime o indicado a passar por entraves. Edson Fachin, por exemplo, quando foi escolhido por Dilma Rousseff (PT), teve sua sabatina na CCJ adiada duas vezes.

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Em razão da “dança das cadeiras” dentro do Supremo, Zanin não herdará os processos da Lava Jato. Os casos são de competência da Segunda Turma do Tribunal, à qual Ricardo Lewandowski, aposentado em 11 de abril, pertencia. Há exatamente um mês, o ministro Dias Toffoli teve seu pedido de mudança de turma aprovado pela presidente da Corte, ministra Rosa Weber. Ele estava na Primeira Turma e foi para a Segunda, assumindo os casos que estavam sob a jurisdição de Lewandowski, incluindo os da Lava Jato. Na prática, Zanin herdará as ações que estavam sendo analisados por Dias Toffoli até o dia 2 de maio.

Relembre a seguir alguns embates entre Moro e Zanin. Assista:

1. Tem perguntas novas?

Quando o ex-diretor da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa depôs na Lava Jato, em junho de 2017, Moro se exaltou por entender que Zanin estava fazendo perguntas repetidas para a testemunha. “São perguntas novas para a testemunha, ou nós estamos aqui só perdendo tempo novamente?”, disse o então juiz. O advogado respondeu: “Vossa Excelência acha que sempre que a defesa fala que é perda de tempo. Esse é o problema”.

Moro rebateu: “O juiz não tem tempo para ficar perdendo aqui”, ao que teve como resposta: “A defesa tem o tempo para demonstrar as suas alegações no processo”. O juiz se desculpou com o ex-diretor da PF pela discussão.

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2. ‘Não respeita a defesa’

Em setembro de 2017, em um dos depoimentos prestados por Lula, Moro indeferiu as perguntas feitas por Zanin porque entendeu que elas eram repetidas. O advogado havia levantou um incidente (tipo de defesa processual), mas não estava satisfeito com a forma como a apreciação do pedido estava sendo encaminhada.

Os dois se interromperam. De um lado, o então juiz federal disse: “O senhor já colocou seu ponto. Eu já ouvi o senhor várias vezes”. Zanin rebateu o magistrado: “Eu não terminei meu raciocínio. Vossa Excelência quer cortar a defesa. Está claro mais uma vez que Vossa Excelência não respeita a defesa”. A discussão terminou com Moro dizendo: “O doutor está errado, o incidente está sendo encaminhado”.

3. ‘Brincadeira’ da defesa

Em abril de 2018, durante o depoimento de Marcelo Odebrecht, Zanin havia enviado por escrito as perguntas que queria fazer no interrogatório. Contudo, no dia da audiência, ele desistiu de fazê-las, sob a justificativa de que não havia acessado a íntegra dos autos. Moro não gostou do gesto. “Eu acho que é uma brincadeira da defesa”, disse o ex-juiz federal.

4. ‘Gentis palavras’

Ainda a respeito do depoimento de Marcelo Odebrecht, em abril de 2018, em outro trecho da discussão sobre o acesso a materiais dos autos, Zanin ironizou Moro: “Vossa Excelência tem sempre ‘gentis palavras’ para dirigir à defesa”. O então juiz insistiu que o advogado estava agindo de forma equivocada por resistir a fazer as perguntas na audiência.

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“Eu insisto, a defesa fará perguntas quando tiver acesso ao material. Está documentado que a defesa não teve acesso. Isso é cerceamento de defesa. Vamos prestigiar a Constituição, no mínimo que é possível”, respondeu Zanin ao então magistrado.

5. Juiz e acusação no ‘mesmo time’

Discreto e reservado, Zanin concede poucas entrevistas. Uma delas foi no dia 13 de julho de 2020, para o Instituto Lula. Questionado por Fernando Haddad, que hoje é ministro da Fazenda, o advogado disse que Moro “estava atuando no mesmo time dos procuradores da Lava Jato de Curitiba”. A parcialidade do magistrado foi a tese vencedora da defesa de Lula. Na ocasião, Zanin também disse que na operação, entre quem defende e quem acusa, não havia “equidistância” e sim “um time que jogava junto e que envolvia o juiz Sérgio Moro”.

Cristiano Zanin e Sergio Moro foram procurados pela reportagem. O senador disse que não iria comentar o assunto e o advogado não retornou o contato.

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