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MP pede rejeição de contas de Doria e Garcia; Tarcísio é alertado de caixa-preta da renúncia fiscal

Procuradoria de Contas vê descumprimento de pisos do Fundeb e saúde, além de falta de publicidade sobre isenções; TCE julga parecer nesta quarta

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Foto do author Luiz Vassallo
Foto do author Gustavo Queiroz
Atualização:

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo recomendou a rejeição das contas de 2022 dos ex-governadores João Doria (ex-PSDB) e Rodrigo Garcia (PSDB). Entre as principais razões pelo parecer desfavorável aos tucanos estão o déficit do uso de verbas para saúde e educação. O MP também menciona a reiterada falta de transparência sobre renúncias fiscais, uma antiga cobrança do TCE ao Palácio dos Bandeirantes. A chamada “caixa-preta fiscal” também motivou a Procuradoria a cobrar o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Em parecer assinado em 22 de maio, a procuradora-geral Leticia Feres entende que a gestão tucana falhou, por exemplo, na execução do piso legal dos recursos destinados à saúde e ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Também argumenta que houve ineficiente gestão da dívida ativa e que o Estado descumpriu determinações anteriores na prestação de contas, além de criar empecilhos para o controle externo das medidas de desoneração fiscal a setores da indústria.

Rodrigo Garcia assumiu o governo após o ex-governador João Doria deixar o cargo para tentar se viabilizar como candidato à presidência da República  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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O relatório do MPC vai se somar aos emitidos por assessorias técnicas da Procuradoria da Fazenda do Estado e da Secretaria-Diretoria Geral (SDG), e será apreciado pelo TCE-SP em sessão nesta quarta-feira, 21. Os conselheiros de contas podem aprovar, aprovar com ressalvas, ou seguir a orientação da Procuradoria e desaprovar as contas dos ex-governadores.

Este é o quinto ano consecutivo em que o MPC recomenda a rejeição das contas. No exercício de 2021, Doria teve contas aprovadas com ressalvas, apesar de parecer prévio desfavorável do MPC. Procurada, a assessoria do ex-governador João Doria afirmou que suas contas foram aprovadas no TCE nos anos 2020 e 2021 e “estão sendo avaliados dentro do prazo normal os três meses em que governou o Estado de São Paulo em 2022″. Garcia não se manifestou.

Saúde e educação

No parecer prévio, o MPC argumenta que o Estado continua a “demonstrar dificuldades no cumprimento de obrigações constitucionais” nas áreas de educação e saúde, apesar dos indicadores fiscais positivos e superávit de R$ 32,3 bilhões no balanço patrimonial em 2022. A Procuradoria identificou que São Paulo não cumpriu os percentuais legais de execução do Fundeb, restando R$ 1,8 bilhão não quitados até o final de abril de 2023.

Na saúde, o governo aplicou, em 2022, apenas 9,98% da receita proveniente de impostos e transferências, descumprindo o piso federal que obriga a aplicação de 12% destes recursos na área.

A procuradoria também questiona o descumprimento dos prazos fixados para cadastramento da dívida ativa. “O problema é ainda mais grave no que se refere à baixa efetividade do recebimento dos créditos inscritos na dívida ativa”, diz o parecer. O MPC identificou que apenas 1,09% do estoque inicial de créditos inscritos foi efetivamente recebido no período e acusa irregularidade na gestão da dívida.

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Benefícios fiscais

Um dos maiores problemas apontados nas contas públicas, porém, está na publicidade dos benefícios fiscais acatados pelo Estado, como nos descontos do ICMS. Trata-se de uma demanda antiga do TCE, que pede que a Secretaria da Fazenda encaminhe os dados requisitados pela fiscalização. O governo paulista tem reiterado defesa de que a publicação das informações poderia ferir o sigilo fiscal dos beneficiados.

Na apreciação das contas de 2021, o governo do Estado recebeu recomendação de implementar medidas previstas para publicar tais renúncias, sob pena de rejeição das contas de 2022. Para o MPC, o Executivo paulista não apenas descumpriu a determinação no ano passado, como retrocedeu na transparência.

Publicidade das renúncias fiscais é demanda antiga do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo  Foto: Felipe Rau/Estadão

“E eis que o improvável aconteceu. Não apenas persistiu a baixa implementação do mencionado Plano de Ações, como houve patente retrocesso no que tange ao compartilhamento de informações e documentos que envolvam a estimação e/ou mensuração de valores renunciados e seus respectivos beneficiários, prejudicando severamente a fiscalização da matéria por parte dessa Corte de contas”, escreveu Leticia Feres. “Seja por um argumento (sigilo), seja por outro (indisponibilidade de sistema), o que se tem é um verdadeiro e grave empecilho à atuação do controle externo em matéria de elevada relevância no contexto das contas de governo”, afirmou.

Recomendações

Entre as recomendações para corrigir as irregularidades apontadas, a procuradora Leticia Feres pede que o governo Tarcísio cumpra recomendações de transparência sobre benefícios fiscais, tema cobrado pelo MPC desde 2015. O órgão entende que os benefícios fiscais concedidos às empresas devem ser tratados como gastos públicos e precisam ser transparentes. Em 2020 e 2021, os valores renunciados ficaram acima de R$ 45 bilhões.

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“Embora os pareceres do tribunal referentes às contas de 2018 a 2021 tenham sido favoráveis, as impropriedades ligadas às renúncias de receitas foram sempre incluídas no campo das ressalvas e determinações”, diz o parecer. Ao todo, o TCE já emitiu 52 determinações e 47 recomendações relacionadas à temática. Para o exercício atual, o MPC reforça determinação para publicação não apenas do valor anunciado, mas do CNPJ ou setor do beneficiário.

Na lista de recomendações ao governo do Estado, está o pedido de cumprimento da execução do percentual legal previsto à educação em São Paulo – hoje fixado em 30%. Ainda requer publicação de todos os contratos celebrados pela administração pública, incluindo a íntegra dos processos de dispensa e inexigibilidade de licitação. Procurada, a gestão Tarcísio não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço está aberto para comentários.

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