Múcio cogita deixar Defesa e Lula pede para ele ‘segurar a onda’ e ficar no governo por mais tempo

Amigo do presidente, titular da Defesa tem dito há tempos que está cansado, mas sua preocupação é com o impacto do corte de gastos nas Forças Armadas

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para “segurar a onda” e continuar no governo depois que ele manifestou, mais uma vez, a vontade de deixar o cargo. Aos 76 anos, Múcio tem dito há algum tempo que está cansado, mas decidiu aproveitar o momento em que o tema da reforma ministerial foi posto à mesa para discutir essa possibilidade com o presidente.

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O ministro voltou a falar do assunto depois que a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 39 pessoas, a maioria delas militares, no inquérito do golpe. Agora, acha que sua missão está cumprida. “O País precisa virar essa página”, insiste ele.

Lula não quer que o titular da Defesa deixe a equipe, apesar da forte pressão do PT para que isso ocorra. A avaliação do presidente é a de que Múcio conseguiu apaziguar as Forças Armadas em uma época de tensão política, após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, e deve continuar esse trabalho na segunda metade do seu mandato.

O governo enviou para o Congresso nesta terça-feira, 17, um projeto de lei que fixa a idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares, a partir de 2032. Atualmente, oficiais podem passar para a reserva com salário integral após 35 anos de serviço. A medida faz parte do pacote de corte de gastos para o ajuste das contas públicas.

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Lula e Múcio: presidente quer que ministro continue fazendo a interlocução com os militares. Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

No mesmo dia em que o projeto foi encaminhado para o Congresso, Múcio se reuniu com Lula, em São Paulo. Ele chamou o ministro para saber como estava o ambiente na caserna após a prisão do general Braga Netto.

Indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe, Braga Netto foi titular da Casa Civil e da Defesa e, em 2022, concorreu como candidato a vice-presidente na chapa liderada por Jair Bolsonaro (PL). De acordo com Múcio, a punição a Braga Netto já era dada como certa entre comandantes militares.

Ao aventar a possibilidade de deixar a Esplanada, o ministro da Defesa – conhecido por construir pontes políticas – também tem observado que militares estão preocupados com os sucessivos cortes de despesas. Com a tesourada, não haverá dinheiro para investimentos, nem mesmo para a compra de novo avião presidencial.

Na prática, Múcio é pressionado de um lado pelo PT – que o vê como porta-voz das Forças Armadas – e, de outro, pela própria caserna, que cobra mais recursos.

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Em conversas reservadas, interlocutores de Lula dizem que a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, também tem certa resistência ao ministro desde os ataques de 8 de janeiro, quando ele propôs um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que o Exército fosse às ruas.

O presidente é amigo de Múcio há mais de duas décadas. No seu segundo mandato, o atual titular da Defesa foi ministro da Secretaria responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso.

Na reunião desta terça-feira, Lula disse a Múcio que a comunicação do governo vai mudar. Com isso, todas as peças e campanhas publicitárias produzidas pelas Forças Armadas, por exemplo, terão de passar pelo crivo do Ministério da Defesa.

A medida tem o objetivo de evitar problemas como o que ocorreu com a divulgação de um vídeo, exibido nas redes sociais, no qual a Marinha faz uma crítica indireta ao pacote fiscal, que também atingiu as Forças Armadas.

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“Privilégios? Vem pra Marinha”, afirmava uma jovem no fim da gravação, que mostrava civis em momentos descontraídos, enquanto militares apareciam em treinamento de guerra. A Marinha retirou o vídeo das redes após críticas de Lula e de Múcio. A peça tinha até mesmo um fuzileiro naval que era sósia do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Nome de Alckmin é novamente citado

Desde que começaram a circular rumores sobre uma eventual saída de Múcio, alguns nomes têm aparecido para ocupar sua cadeira. Na lista estão o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deixará o cargo em fevereiro. Nenhum dos dois quer essa pasta.

A hipótese de Alckmin ir para a Defesa já havia sido discutida ainda no governo de transição por interlocutores de Lula, sob o argumento de que ele tem bom trânsito na caserna. Alckmin é amigo do comandante do Exército, Tomás Paiva, desde os tempos em que era governador de São Paulo.

Pacheco, por sua vez, também tem o nome mencionado para o MDIC, hoje comandado por Alckmin, e até para a Justiça. Ao menos por enquanto, porém, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, fica onde está, apesar da rota de colisão com o chefe da Casa Civil, Rui Costa.

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Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Lewandowski está insatisfeito com a demora para a execução de suas propostas, mas não pretende sair já. No último dia 3, ao comparecer à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara, onde foi cobrado sobre a edição de novo decreto para regular o uso de armas de fogo para caçadores, atiradores e colecionadores (CAC), Lewandowski não escondeu a contrariedade.

“Eu quero manifestar o meu inconformismo por ter sido convocado. Se eu tivesse sido convidado, eu viria imediatamente”, disse o ministro.

Nas últimas semanas, porém, eram tantos os rumores de que Lewandowski substituiria Múcio ou deixaria o governo que ele chegou a pedir para amigos o ajudarem a desmentir os boatos.

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