Na Bahia, maioria dos prefeitos apoia petista, mas ACM Neto lidera pesquisas

Pesquisa inédita aponta que dos 417 gestores municipais, 272 (65%) apoiam o candidato petista Jerônimo Rodrigues e 114 (27%) estão com ACM Neto (União Brasil)

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Por Regina Bochicchio

Levantamento inédito sobre o apoio declarado dos prefeitos baianos a um dos dois principais candidatos ao governo mostra que dos 417 gestores municipais, 272 (65%) apoiam o candidato petista Jerônimo Rodrigues e 114 (27%) estão com ACM Neto (União Brasil). O candidato João Roma (PL) recebe o apoio de 8 prefeitos (2%) e 23 gestores (6%) estão indefinidos. Os candidatos Giovani Damico (PCB) e Kleber Rosa (PSOL) não têm apoio declarados. Apesar do apoio, quem ainda aparece na frente nas pesquisas, com possibilidade de vencer ainda no primeiro turno, é o candidato do União Brasil.

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No entanto, para o professor doutor Cláudio André de Souza, responsável pela pesquisa juntamente com a professora Raquel Carvalho, os números sinalizam que, se depender do apoio dos prefeitos, o cenário ainda está aberto na Bahia. Eles são pesquisadores na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e Universidade Católica de Salvador (UCSal), respectivamente.

A pesquisa, obtida com exclusividade pelo Estadão, leva o nome de A Batalha dos 300: O apoio dos prefeitos nas eleições da Bahia (2022) – que apesar de fazer alusão aos 300 resistentes soldados espartanos da história da Grécia Antiga, está relacionado ao que reza a lenda no meio político baiano: de que é preciso o apoio de 300 prefeitos para se vencer a eleição no Estado. Nesse cenário, os 23 indecisos são disputados palmo a palmo.

O levantamento mostra ainda que entre os prefeitos filiados aos partidos com maior musculatura eleitoral no Estado, o PSD e o PP, a maioria também está com Jerônimo. Em 2020, o PSD fez 108 gestores e o PP, 92. Entre os atuais administradores pepistas, 55 já disseram apoiar Jerônimo e outros 29 decidiram por ACM Neto. Já entre os filiados ao PSD, 88 estão com o PT e 15 com Neto.

Para chegar a esses números, os pesquisadores analisaram o conteúdo das redes sociais dos prefeitos e das prefeituras (Instagram e Facebook) e usaram ferramentas de busca para verificar as declarações dos gestores em matérias de jornais, sites e blogs da imprensa baiana. A coleta encerrou no dia 5 deste mês, quando ocorreu a última convenção, do candidato ACM Neto.

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“A gente tem um cenário no qual a base governista ainda tem um candidato (Jerônimo) desconhecido que talvez só consiga ganhar mais projeção, de fato, com o início da propaganda eleitoral, sobretudo na TV nas rádios e nas redes sociais. E o que os dados que a gente conseguiu mapear oferecem, sobretudo, é que há um equilíbrio político dentro dessa disputa, com base nos prefeitos”, analisa o professor Cláudio André.

Desafio de petista é se tornar conhecido do eleitorado baiano

Apesar dos números favoráveis ao candidato Jerônimo Rodrigues, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, segue liderando as pesquisas de intenção de voto com ampla margem de vantagem. Na última pesquisa Quaest, de 15/07/2022, ACM Neto aparece com 61% no cenário estimulado, enquanto Jerônimo pontua 11%.

Se Jerônimo é desconhecido, mas tem o apoio da maioria dos prefeitos, por sua vez ACM Neto é muito popular, mas precisa consolidar os votos mostrados nas pesquisas, com menos gestores ao seu lado. Ou tentar seduzir alguns para mudarem de lado. O Estadão já mostrou que os candidatos baianos estão disputando gestores de partidos que apoiam o seu principal adversário a fim de alterar a soma de prefeitos. Em junho e julho foram aproximadamente 40 prefeitos vira-casacas.

“O dado (da pesquisa) mostra um equilíbrio político porque, se nesse momento a base aliada governista tem muitos prefeitos, o maior desafio, portanto, é fazer com que essa máquina funcione, os prefeitos se engajem na campanha de Jerônimo. Eu vejo que esse é um fator preponderante. E, por outro lado, o grande desafio de ACM Neto é consolidar sua intenção de voto, é consolidar a preferência de voto nesse momento a partir de uma perspectiva que seja despolarizada, como ele tem feito”, analisa o professor.

Objetivo é criar ‘ranking de sucesso eleitoral’ após as eleições

Até que ponto o apoio de prefeitos a um candidato ao governo pode se transformar em votos nas urnas? É justamente a resposta para esta pergunta que os pesquisadores querem ter. O objetivo da pesquisa é o de, após as eleições, criar um “ranking de sucesso eleitoral dos prefeitos”, analisando a consequência do apoio dos prefeitos e dos partidos em transferir votos para os candidatos apoiados.

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“Sobretudo, isso envolve o volume de campanha. Isso envolve o fato que os prefeitos exercem uma liderança política local muito forte. Sobretudo porque como as economias locais são frágeis, acaba que a Prefeitura organiza a economia do município, induz o desenvolvimento, é o principal polo de atividades econômicas. Então, de alguma maneira a Prefeitura exerce esse poder e as relações locais são mais próximas, são mais palpáveis”, diz Cláudio André.

Na contramão, se o prefeito não vai bem, “a tendência, de fato, é que isso respingue na construção das estratégias eleitorais na eleição para o governo”.

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