BRASÍLIA - Na disputa por 27 vagas no Senado, os dois principais candidatos à presidência da República buscam ampliar suas bases de apoio no Congresso. Até agora, o petista Luiz Inácio Lula da Silva tem conseguido atrair mais nomes para dar suporte à sua candidatura do que o presidente Jair Bolsonaro (PL). Até mesmo partidos que decidiram não se coligar nacionalmente com o PT vão dar palanque para Lula. Ele tem o apoio de pelo menos quatro candidatos PSD, três do MDB e até um do Progressistas, que se aliou a Bolsonaro.
Dos senadores que ainda têm mais quatro anos de mandato, Lula tem apoio de 17 e Bolsonaro o de 18. A Casa Legislativa tem papéis importantes, como analisar indicações para o Supremo Tribunal Federal e para embaixadas. Enquanto o atual presidente tem na Câmara uma base sólida de apoio, no Senado ele já sofreu derrotas, como a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que revelou um esquema de compra de vacinas contra o coronavírus.
Levantamento feito pelo Estadão identificou que o PT não vai ter candidato próprio a senador na maioria dos Estados. Em 15 das 27 unidades da federação, o partido não vai concorrer ao cargo. Por outro lado, o PL não vai dar suporte a Bolsonaro em apenas oito Estados. O presidente também atraiu o apoio de dois candidatos do União Brasil, uma do PROS e uma do MDB, siglas que lançaram outras candidaturas presidenciais.
Além do PT, PSD, MDB e Progressistas, Lula tem apoio de 12 candidatos do PSOL e nove candidatos do PSB. Sem contar com os do PL, União Brasil, PROS e MDB, Bolsonaro tem o endosso de oito candidatos do PTB, oito do Progressistas, quatro do Republicanos, um do Patriota e um do Agir.
Às vésperas do início da campanha eleitoral, Lula e Bolsonaro ainda enfrentam divisões nos seus palanques para o Senado. O grupo do petista tem mais de um candidato em 14 Estados e o do atual presidente também em 14. Apenas uma vaga no Senado por Estado está em disputa neste ano. O prazo para o fim das convenções, que definem os candidatos, é no dia 5 de agosto, e os partidos têm até o dia 15 para oficializar as candidaturas na Justiça Eleitoral.
Em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, o presidente vai apoiar o ex-ministro Marcos Pontes (PL) para o Senado. No dia 23 de julho, Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato a governador do campo bolsonarista, divulgou a escolha de Pontes. “Anuncio que nosso 1º astronauta, o menino de origem humilde, que acreditou em um sonho e levou a bandeira do Brasil onde ela ainda não tinha chegado, vai alçar um novo voo. Será pré-candidato ao Senado Federal”, afirmou.
A deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB), que também é candidata ao Senado e tem um história de idas e vindas sobre o apoio a Bolsonaro, criticou a escolha de Pontes e disse que ele não cumpria de forma adequada o papel de fazer oposição caso Lula seja eleito. “Precisamos eleger pessoas (para todos os cargos) que tenham condições de fazer a resistência ao governo Lula”, cobrou em mensagem publicada no Twitter.
Quem lidera as pesquisas de intenção de voto no Estado é o ex-governador Márcio França (PSB), que apoia Lula. Também bolsonarista, a ex-deputada Cristiane Brasil (PTB) é outra que vai concorrer ao Senado.
Em Minas e na Bahia, respectivamente o quarto e o terceiro maiores colégios eleitorais, Lula apoia candidatos do PSD ao Senado. Os candidatos ao Senado Alexandre Silveira (MG), Otto Alencar (BA), Omar Aziz (AM) e André de Paula (PE) fazem parte da ala do PSD que querem que o partido esteja com o petista logo no primeiro turno.
Na semana passada, Silveira declarou que o “PSD não pode ficar neutro nesse momento” e disse que Lula “hoje é a única alternativa para pacificação da nação”. No entanto, o presidente da sigla, Gilberto Kassab, negou a possibilidade de aliança formal com o petista no primeiro turno. “Foi aprovada a proposta de netraulidade”, disse. Na prática, o comando nacional do partido liberou os diretórios estaduais para apoiarem quem quiserem.
O PL lançará candidatos próprios nos quatro maiores colégios eleitorais. O representante de Bolsonaro na disputa pela vaga de Minas no Senado será o ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio (PL), deputado mais votado do Estado na eleição de 2018 e alvo de suspeitas de fomentar candidaturas laranja. Na Bahia, o presidente terá o apoio da médica Raissa Soares (PL). O candidato de Bolsonaro no Rio será o senador Romário (PL), que tenta a reeleição e está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Os bolsonaristas Daniel Silveira (PTB) e Clarissa Garotinho (União) também vão tentar o Senado.
Já o PT vai ter candidato próprio apenas no Rio, considerando os quatro maiores Estados, onde o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano, vai disputar. A candidatura ao Senado no Estado provocou uma crise dentro da esquerda. Enquanto o PT vai concorrer com Ceciliano, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), que apoia Lula, também vai disputar o Senado.
O PT pressionava o PSB para retirar a candidatura de Molon, mas a legenda não cedeu. Na quinta-feira, 21, Lula divulgou um vídeo em que disse que Ceciliano é seu único candidato ao Senado no Rio.
O ex-presidente tem reafirmado que seu candidato a governador é o deputado Marcelo Freixo (PSB), mas uma ala do PT tem defendido que, por conta da candidatura de Molon ao Senado, o partido apoie Rodrigo Neves (PDT) ao governo. O pedetista fechou aliança com o PSD, que indicou Felipe Santa Cruz como vice. Presidente do diretório estadual do PSD, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, declarou apoio a Lula. Mesmo com Ciro Gomes sendo o candidato do PDT a presidente, Neves tem acenado ao petista.
“Se não cumprirem o acordo (retirar a candidatura de Molon) não vejo como continuar com essa aliança restrita que atrapalha o Lula e nos deixa só fazendo campanha na classe média de esquerda da capital. Seria muito melhor estar com Rodrigo, Felipe e Eduardo Paes e com André pro Senado”, disse Washington Quaquá (PT), ex-prefeito de Maricá (RJ) e um dos vice-presidentes nacionais da legenda.
Já o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), secretário-geral da sigla, negou a possibilidade de embarque na candidatura de Neves. “PT vai apoiar o Freixo. Rodrigo Neves é Ciro. O presidente do PDT (Carlos Lupi) não deixará tranquilamente que ele faça um palanque para o Lula”, disse. Freixo também declarou que a chance de não ter o apoio de Lula é “zero”.
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