Nada de novo no discurso de Lula: é a tática do salvador da pátria

O discurso do petista não faz menção ao tipo de oposição de amplo espectro que o coloca na posição de ser o presidente eleito que já assume com um grande índice de rejeição

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colunista convidado
Foto do author William Waack

Não há nada surpreendente no primeiro discurso do presidente Lula. Está perfeitamente em linha quanto à tática política, que é a de se apresentar como salvador. E alinhado com o que se pode chamar de “ideias gerais” do petismo, incluindo política externa.

Lula diz assumir um país destruído por regime autoritário que dilapidou o patrimônio público, tem responsabilidade por genocídio durante a pandemia, foi criminoso, negacionista e obscurantista. Lula inicia o mandato, disse, “frente a adversários inspirados no fascismo”.

O que Lula postulou em termos gerais sobre o que pretende fazer na economia faz parte de seu discurso padrão de quase meio século de vida pública. Foto: Silvia Izquierdo/AP

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O extremo lógico desse raciocínio abre caminho para dizer que a enorme oposição ao PT e a Lula – cujo espectro é imensamente mais amplo do que o bolsonarismo - é uma oposição a quem (Lula) pretende “reconstruir em bases sólidas a democracia”. É arriscado como tática política num país profundamente dividido.

Assim como é arriscada a afirmação de que o teto de gastos é uma “estupidez” que será revogada. Da mesma maneira, o extremo lógico desse raciocínio abre caminho para caracterizar como “estupidez” a limitação do crescimento de gastos públicos. Está implícita neste trecho do discurso a falsa dicotomia entre política fiscal e social.

O que Lula postulou em termos gerais sobre o que pretende fazer na economia faz parte de seu discurso padrão de quase meio século de vida pública. É a ideia de que o principal motor do crescimento é o consumo popular, e que os grandes indutores de investimento são os bancos públicos e estatais como a Petrobras.

Não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de petróleo, microprocessadores, aeronaves e satélites, afirmou Lula em seu primeiro discurso como presidente. “Caberá ao Estado trazer a indústria brasileira para o século 21″, prosseguiu, “com uma política industrial que (...) garanta acesso a financiamentos a custos adequados”.

Lula disse ter compreendido que deveria ser o candidato “por uma frente mais ampla” do que o campo político no qual se formou. Foi a única referência no discurso à proposta política de conduzir um abrangente consenso entre forças políticas diversas que convergiram na necessidade de derrotar o bolsonarismo e destronar seu “mito” – embora Lula tivesse logo dito que deve sua vitória “à consciência política” da sociedade brasileira e “à frente democrática” formada para as eleições.

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O discurso de Lula não faz menção ao tipo de oposição de amplo espectro que o coloca na posição de ser o presidente eleito que já assume com um grande índice de rejeição. Mas seus primeiros passos e medidas, sim. Segura mais um pouco aí essa desoneração dos impostos sobre combustíveis. Presidente assumindo e já tem gasolina mais cara?

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